domingo, 28 de dezembro de 2008
Mudanças
Bom... são 2009 mudanças desde que Maria deu a luz, mais algumas anteriores a essas. Tipo, algumas milhares de milhões de mudanças.
Mudanças.... e quando a mudança muda? Será que muda?
Achei uma animação de Michaela Pavlátová, uma cidadã da Republica Tcheca, que tem uma bela perspectiva, dando uma contribuição com sua riquíssima pitada cotidiana.
Ps. O que vem antes do Big Bang?
Ps2. Feliz Ano Novo. Novo?
Pra quem preferir You Tube
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Sessão Lotada
Olho para o espelho e vejo um palhaço. O rosto branco - de um branco que não existe, olhos marcados e o eterno sorriso vermelho. Poucas coisas são tão tristes quanto um palhaço. A obrigação de sorrir e fazer graça.
Afundo o algodão no demaquilante, fechem as cortinas.
Minha vida é um filme, assim como esse que acabei de assistir: Fim da 2º Guerra Mundial, a Alemanha passa fome. Pessoas esperam em filas intermináveis por pão e batatas, enquanto a garota revolta-se com o pai, que pretende vender sua balança para comprar comida. Ela precisa controlar seu peso.
Escuto a conversa de um grupo de amigos. Eles contam que, três amigos saíram com o carro do pai de um deles, sem avisar. Bateram o carro e um deles ficou inconsciente - aparentemente morto. Os outros dois ligam para a polícia e denunciam o sumiço do carro como roubo. O carro é encontrado, o garoto desacordado é resgatado, preso e condenado. Após a conversa séria, eles resolvem descontrair: a garota, morena, questiona seu amigo, na frente de todos – uma espécie de humilhação pública - por ele ter ficado com uma baranga: “ela era muito feia, além de tudo negra... uma empregada”. Eu não ficarei surpresa se eles forem fãs do Lars Von Trier.
A realidade só choca enquanto ficção. Todos os dias, ouvimos, vemos, convivemos com personagens dos filmes, mas eles não nos assustam. Deixamos pra lá, eles não sabem o que fazem. Continuamos Dançando no Escuro, e que chamem o palhaço.
domingo, 14 de dezembro de 2008
“Eu não te contarei a história da forma como aconteceu, te contarei do jeito como eu me lembro”.

Sempre, até que venham com alguma prova irrefutável para me julgarem. Até lá estarei certo, até que minha memória resolva me trair.
Não sei bem, talvez existiam motivos prévios para que eu aqui esteja. Mas não me lembro...
Mas já que estou, vou aproveitar. Aproveitar a chance e escrever algo. Algo que talvez eu não saiba bem por que escreva, mas talvez alguém saiba o porquê de ler.
Então vamos lá, vamos ao causo. A história da criança que gostava de monstros. A história da mulher traída que não acreditava mais nos homens. A história do homem idealista, que não tinha preço, mas a vida lhe mostrou o quanto era barato.
Vamos ao causo do vespeiro que não podia ser mexido e terminou incendiado. A lenda de um povo que acreditava em um Deus único e não soube o que fazer quando viu outras possibilidades...
Cheguemos então a falar do sofrimento de Maria, que acreditou e viveu pelo amor de Nino, seu esposo, seu guia e motivo eterno de sua saudade e de seu pranto. Mas não vamos agora cogitar as noitadas de Nino... Não nos cabe.
Tentemos lembrar das histórias das alianças que voam em cenas dramáticas nas ruas de nossas cidades. Ou então contaremos as cenas de fome, as enchentes, a violência capital... Ou ainda a já tão cliché luta entre o bem e o mal...
Vamos tentar falar do inédito numa série que só se reprisa. Vamos relembrar nossas vitórias, nossas alegrias... Conseguiremos ainda pensar nos amores que não conhecemos, nos amigos que não mais falamos... Sofreremos pelas ajudas que não dêmos, pelas cagadas que fizemos.
É o que nos cabe, pelo menos é o que me cabe, mas que tal hoje tentarmos só sermos e nada mais?
Afinal, temos grandes esperanças....
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Lê a Veja? Azar o seu
A jovem acima prefere manter-se no anonimato, mas está disposta a responder e-mails. Solteira recente, foi convidada/intimada a conhecer um amigo de um casal de amigos. E lá foi ela, com seu melhor vestido - um belo tomara-que-caia -, cabelos asseados e de muito bom-humor.
Não foi bem um encontro às escuras, mais à meia-luz. Mesmo assim, ela sentia-se como um esquimó quebrando um Icebergue com uma marretinha. Ah! Mas todos aqueles meses na academia deixaram seus braços fortes como aço. Até que o Azar cruzou o seu destino. Seu amigo começou a criticar a revista Veja, ele argumentava sobre a duvidosa postura jornalística. Ela engrossou o coro dos descontentes, até que, o moço disse: “Ah! Eu não acho a Veja tão ruim assim”. Aquele sofá era grande demais pra ela, a frase: “Ah! Eu não acho a Veja tão ruim assim”, causara nela o mesmo efeito da pílula de nanicolina, do Chapolim Colorado. Ela foi afundando no sofá, encolhendo, não conseguia mais segurar a marretinha porque era uma formiga em comparação à ela. A noite tinha acabado e o jantar nem tinha sido servido.
Fontes extra-oficiais afirmam que, um noivo já foi abandonado no altar, após a noiva descobrir a assinatura da revista; filhos cresceram traumatizados e revoltados; sem falar nas dezenas de namoros desfeitos... Por isso, pense muito bem antes de colocar a revista em suas mãos e as idéias em sua cabeça. Leu na Veja, o Azar é seu.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Pra você
Eu quero ser forte, mas minha pele é fina demais.
Eu quero emoldurar os desenhos que você fizer nas minhas costas.
Eu quero ser teu pão, sentir você esmagar meu corpo com suas mãos.
Eu quero ponte sem bungee jump.
Eu quero a eternidade daquele abraço afobado, mas o sol insiste em nascer.
Traga uma vela
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Ligando os pontinhos
Alguns dias atrás, quando eu tentava imaginar o que aconteceria com o finalzinho dos meus 26 anos, vi o tempo fechar. Um amigo de trabalho me vendo apressada para ir embora disse: “ você não trouxe guarda chuva?” Antes que eu respondesse, negou com a cabeça e prosseguiu: “Você não é tipo de mulher que anda com guarda-chuva”. Me senti nua, em um corpo que não me pertencia, argumentei que às vezes ando com um guarda chuva tão grande que, em meus pensamento, é mais um cajado que me mantém firme no mundo.
Eu corria, corria, corria e perdia. Não tem fita ou “chapéu” que drible a chuva. Quando o céu desaba e não se está preparada: sua pele vai sentir e seu coração terá que agüentar.
Água caía, caía, até um momento que eu me tornei parte da chuva, minha roupa ensopada, meu corpo pingando e meu coração dilatado. Nesse momento, senti a paixão, o excesso, o descaso com o mundo. Entrei afobada no metrô, os olhares espantados não me assustavam, eu estava alimentada, mais do que isso, estava viva!
E lá fui eu, pela 1 vez no Estádio, ver a paixão nacional, o tempo era bom, com pouca probabilidade de chuva. Ahh paixão, a paixão são 58.648.18 corações suspensos até o final do lance, e depois sentir o chão tremer. E haja concreto pra segurar os urros, pulos, gritos, o desespero. Quando se perde: a única coisa que se pensa é ganhar. E quando se ganha, se quer ganhar mais ainda. A paixão é o exagero e a fidelidade, fidelidade daquelas duas velhinhas que regularmente vão ao estádio ver seu time do coração; do antigo-argentino que anda devagar e sozinho, mas solícito, carregando a bandeira de uma paixão que não sabe explicar como começou.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Muito mais que um anel....
Mas o que realmente me motivou a escrever esse texto foi a declaração, via MSN, de um amigo: “eu tentei fazer tudo certo, até anel eu comprei!”. Pausa. Uma contextualização se faz necessária: Não, ele não é um Clark Kent, sabe aquele tipo: óculos sem aro, camisa social por dentro da calça, enfim, o bom moço. Sim, ele é da turma dos sujinhos - carismáticos, dos que escrevem muito bem, comem bolovos na Mooca e dos que o último porre, que temos notícia, não foi na adolescência, mas sim no domingo passado mesmo. Assim foi: Levou a minha irmã na joalheria, parcelou o bendito e enviou com flores vermelhas, claro, no dia dos namorados. Acabou, no dia de finados, com a última parcela do cartão e na solidão.
Ficamos, ele e eu, tentando entender por que cargas d’água ele quis dar um anel à moça? Por que as pessoas dão anéis??
Ele cogitou posse, mas terminou com a busca por se eternizar no outro. Eu comecei a montar meu costumeiro quebra-cabeça. Lembrei que, uma vez, meu tio querido encasquetou que deveria me dar uma jóia. Eu: não tio, essas coisas são caras. Ele: nada, Clau. Com a maior cara de pau eu disse: ah é... Então, me dá em dinheiro que eu vou viajar.
Comecei a achar que meu amigo tinha razão, mas era cedo para conclusões. Procurei no meu baú de memórias e lembrei-me de uma história:
Um dia, na casa da mãe de amigo, um anel me chamou atenção. Quase submerso no dedo de uma senhora. Era um anel de Camafeu. Eles sempre me impressionaram, talvez por influência dos contos de fadas. Elogiei o anel. A senhora me responde com um sorriso sonoro, comprimindo-o levemente com a mão esquerda, e disse: "Esse anel tem mais de 50 anos”... “Quando eu me formei, no que hoje é o ginásio, minha mãe quis me dar um presente, porém, não podia. Então, me deu o anel de seu noivado”.
Naquele dia, não consegui deixar de pensar que, por mais de 50 anos, aquela que foi uma menina e, hoje, é uma senhora, carregou consigo uma prova de amor de sua mãe. Que por sua vez, foi símbolo do elo entre seus pais.
Ah! Mas não sei. Afinal, capitalismo, selva de pedra. A visão de um anelzinho resolvendo muitos problemas diários me tenta, mas, e se eu o ganhasse do meu menino? O tal, que dizem que existe, e que eu estou aqui esperando para merecer.
É amigo, você fez tudo certo. Eu que fiz errado, não importa o quanto eu tenha fotografado, nunca poderei dar a minha viagem à minha sobrinha. Nunca me eternizarei em jóia.
Sempre fui avessa às cerimônias, alianças ou anéis, mas aprendi que um anel pode ser muito mais que um anel. Tenho que continuar de olhos bem abertos para conseguir aprender os sentidos e que, por mais que sejamos descrentes, mesmo sem fadas, temos contos!
** Contos de todas as cores, Pati e Tato. Amor, madrinha.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Para os céticos: Besteirol para entortar mentes. Para os sentimentais: Aquarela.

A antítese, a afirmação preferida dos advogados (ironicamente): Contra os fatos, não há argumentação. Esse texto se propõe a um breve passeio pela vida e, audaciosamente, pretende provar que os fatos não existem por si mesmos.
Nosso passeio começa pelos nossos olhos. É isso mesmo, não é interessante como nossos olhos não permanecem “o tempo todo abertos”? Você esqueceu? Nós piscamos. O que é uma piscada? O breve intervalo entre abrir e fechar dos olhos. O momento em que os olhos estão abertos seria o real? O comprovado? A razão? O fechar dos olhos seria então o mistério? O obscuro? O que está além e aquém da razão? O sentimento? Se pensarmos assim, vida é um eterno diálogo, expresso pelo o breve instante de um piscar de olhos. Real versus mistério. Sob essa perspectiva, o escuro (mistério) e o claro (real) são planos que se perpassam, e mais, que se fundem de tal maneira que o bom, ruim, belo, feio, nojento, tornam-se relacional, e portanto, não objetivo.
Humm Complico? Esse blog tá metidinho, mas vamos a mais uma teoria cotidiana, sem fundamento, claro, porque fundamentos são para os chatos. Brindemos à fantasia.
O que pretendemos é expressar, através da premissa já citada, que se até mesmo nossos olhos vivem num constante diálogo entre o ver e o não-ver, nada é tão certo ou tão errado. E tem mais: entre uma piscada e outra, vemos e não vemos milhares de partículas de vida, portanto, as combinações podem ser infinitas.... Eu sei, eu sei, Planeta-Terra, Planeta-Terra chamando... Voltemos à terra firme. O que estou tentando dizer é que, nada pode ser analisado em si mesmo, é preciso entender a teia de relações. Essa teia é a combinação do que vemos com o que deixamos de ver.
Passaremos agora ao estudo de três casos, para exemplificação da proposição:
Estudo de caso nº1. - A sujeira
Em mais uma noite em um bar, questionei-me. Cervejas derramadas no chão, e que permanecem ali, sendo pisadas e repisadas durante horas, é uma cena nojenta, suja? Mas, e se essa cerveja, esse líquido derramado no chão, proporcionar o deslizamento necessário para que as pessoas desse bar dancem melhor? É isso mesmo, antes o rude chão dificultava os movimento dos dançantes, mas o chão molhado pela cerveja fez com que os pés dos dançarinos deslizem com facilidade, produzindo leveza e agilidade de movimentos. Isso é nojento ou bonito?
Estudo de Caso nº 2. - Religioso em cena.
Deparo-me com três franciscanos no metrô Sé da cidade de São Paulo. Por um instante as piscadas cessam e a cena se petrifica, as figuras se destacam das demais pessoas que estão ao seu redor. Seus contornos são nítidos, suas cores expressivas. Em um primeiro olhar vê-se: três jovens franciscanos muito parecidos, a semelhança é causada pelo corte de cabelo, suas roupas e por seus pés descalços e feridos. A dissonância entre os religiosos e os demais passageiros é visível. Três representantes de uma ordem religiosa que tem como objetivo a uniformidade, a igualdade entre seus pares, visando o desprendimento de todo e qualquer desejo particular, a negação do eu e da materialidade via adoção de uma vida com níveis extremos de miséria. Talvez algumas pessoas, olhares, enxerguem beleza nos religiosos. Ora, esses abdicaram dos prazeres fugazes, por uma vida significada, por um ideal, por uma crença. Ora, outros entenderão essa posição como uma estupidez; afinal significa renunciar a tudo que pode ser vivido, sentindo, desprezar a liberdade por algo que não sabemos se existe realmente. É estupidez a essa altura do campeonato 2008, andar descalço na Sé?
Estudo de caso aplicado nº 3. - Yasmim, 5 anos, vendedora de chicletes da praia do Futuro.A seu favor: além da brisa do mar, o brilho dos seus olhos.
Ela fica impressionada com meu mp3, tira uma foto com a minha câmera. Teima que eu escrevi o seu nome errado. Antes de partir, pede que eu desenhe uma casinha com uma cama e uma escada pra ela subir... Pra onde vai Yasmin?
Eu fico ali, com meu olhar opaco da vida, tudo cinza naquele dia de sol que derrete minha retina e deixa o mar mais azul: será que Yasmim sabe (sente) que é explorada? O que ela pensa a respeito do seu futuro? Ou será que seu futuro é a realidade! Que cor tem o futuro? Que cor tem a realidade? O futuro é certo, a realidade é errada? Ou sabemos nós, sabichões, qual será o futuro de Yasmim, e que de certo ele não tem nada. E que a realidade é tão ardida quanto o sol que queima a minha retina.
Yasmim parte, se volta pra mim e sorri. Constato que eles continuam lá: o brilho do seus olhos. Pra onde vai Yasmim? Yasmim vai em direção às terras distantes que meus olhos não conseguem avistar... me viro e contemplo o mar.
Eu te pergunto, você acredita que tem paleta de cores? Ou pra você os pincéis são para poucos? Será que o Capital do Marx ou a Caverna do Platão é capaz de apagar o brilho dos olhos de Yasmim? Será que o conforto tentador de uma havaianas fará com que os franciscanos deixem de andar descalços por aí? Será que cada um de nós tem o potencial de pintar sua vida, escolhendo assim ser um impressionista, barroco ou surrealista? Claro que os pincéis, as telas e as tintas não serão as mesmas, mas cada um, diante de sua estrutura, pode dar as formas e cores providas do seu olhar. De modo que cada um fará de sua vida uma obra de arte?
Sim, é a síntese da tese. Por hoje, creio que não existem fatos, mas situações. Para cada situação, uma tela, que dá para uma janela, uma porta ou um beco sem saída.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Açucar

Pelo menos hoje...
Play Game
Sou a mulher com vestido vermelho
que segura uma ficha na mão.
A Juke Box pisca pra mim,
mas qual é a música perfeita?
cada Um é uma música,
mas eu quero escolher A música.
A porta entreaberta é um imã para meus olhos....
persigo A música em minha mente
e brinco com meu corpo:
Quente. Frio.
O vento frio que vem da porta,
contrasta
com meu corpo quente.
Quente. Frio. Quente. Frio. Quente.
Meu destino é um homem de costas para mim na porta.
Não importa!
Mergulho minha mão no meu bolso abarrotado.
O tilintar dá o tom.
Vou apostar todas as fichas...
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
A Carta

Que a luta pela vida alheia venha depois de sabermos por que queremos nossa própria vida... Não por egoísmo, mas por sinceridade, só assim nossa luta será honesta...
Me parece até com um pouco de covardia, de culpa demais, não auto delegar o direito de ser feliz... Não é pecado moral, ou algo que o valha reconhecer o Sol, as nuvens, os dias de frio, os campos, os oceanos, as crianças nos quintais, os casais na praça... O amor ainda pode ser de graça e para todos... A comida infelizmente é falta para muitos... Mas o amor, o reconhecimento, o porquê, isso é para raros...
O amor solitário, o amor pela paz de um cigarro no final do dia de trabalho, pelo deitar cansado, mas cansado de tanto amar a vida, para que a nossa luta continue, sempre, seja qual for o caminho que resolvemos traçar....
Que amemos nossa própria frustração, para que ela alimente o próximo êxito, nos de força para nossa próxima batalha... E que nós acreditemos nas mudanças que façamos por menores que elas sejam...
Não é fácil, mas acho que vale a pena, sou covarde demais pra desistir.... E nada de maniqueísmo, não somos unânimes em nossas verdades.
Cláudio
Sem data
http://voupracasamasnaoja.blogspot.com/
sábado, 25 de outubro de 2008
Nacos de Nuvem - Maiakóvski

de nuvem - quatro farrapos:
do primeiro ao terceiro - gente;
o quarto - um camelo errante.
A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.
Do seio azul do céu, pé-ante-
pé, se desgarra um elefante.
Um sexto salta - parece.
Susto: o grupo desaparece.
E em seu rastro agora se estafa
o sol - amarela girafa.
1917-18
Maiakóvski
(Tradução de Augusto dos Campos)
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Segunda - Feira

Mesmo que eu feche meus olhos, ele continua lá: o menininho desapontado, sentado na casinha do cachorro, olha à sua casa, seu barraco. O cenário não está pintado em preto e branco, é colorido demais e vivo demais para esquecer.
Sua hesitação dói mais que um não. Não há movimento no hesitar. É mar sem vento.
Eu não tenho jardim e nem sementes para plantar. Não sei se um dia terei filha, para dar plantinha e bilhete com letra tremida, como fez a minha.
Eu quero me diluir nessas lágrimas, e virar mar, só pra ajeitar seus cabelos com as minhas ondas.
Eu só queria colo, em um domingo qualquer, para ter coragem de seguir.
Nas minhas segundas-feiras.
Ps: Trilha da Segunda- feira http://br.youtube.com/watch?v=26g1jQG-n4Y
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
O homem que não podia beijar x O entregador de pães
Laura caminha pela Augusta, pensa em ligar para os amigos, mas desiste, é dia de seguir só. Luiza recusa o previsível samba e decide por Blues e Jazz na Ilha da Fantasia – também conhecida como Floripa.
Tudo acontecia como Laura previa: cerveja, mulheres excessivamente charmosas e troca de olhares desconexos. Até que se percebeu observada por um exemplar mais enxuto do Poderoso Chefão, sabe aquele tipo: estou flertando com você, mas não assumo.
Luiza conversa amenidades com os amigos à mesa, quando vê entrar no pequeno bar um desenho, é isso mesmo, o desenho do seu menino. O menino que ao longo anos e com muito esmero desenhou em sua mente, acrescentando uma esquisitice aqui, uma calça xadrez ali, uma doçura acolá. Como se tudo não fosse perfeito, Arthur era amigo dos seus.
O show começa e por um magnetismo musical as pessoas avançam em direção ao palco. As mãos da Laura e do Poderoso Chefão se tocam brevemente, mas o suficiente para um quero mais. Sorrateiramente o Poderoso Chefão segura a mão dela, e como se não tivesse feito nada, acompanha o show indiferente.
O desenho não desviou do seu script, encanta-se por Luiza. Entre várias conversas, conta que faz pães e os entrega em uma bicicleta com um cesto na frente. Os amigos confirmam, tal qual os meninos dos filmes italianos do pós-guerra, Arthur é o garoto magricelo de boina azul que pedala sobre os paralelepípedos entregando suas baguetes.
João é o nome do Poderoso Chefão, ele a abraça. Laura praticamente some em sua jaqueta preta. Ele é doce e forte, embora não fisicamente. Ela não sabe mais se é um Poderoso Chefão, mas, enigmático como todos, sente que pode derreter ali, imersa. Laura teme ser hipnotizada se encará-lo. Feito gatos, alisam-se. Até o momento, que ser gato não basta, centímetros separam seus lábios. João: Não posso beijar. Laura tenta inutilmente controlar suas sobrancelhas, que se transformam em sobrancelhas-Coringas, e tem um acesso de riso.
Arthur saca um bombom do bolso, come-o demoradamente, sem oferecer à Luiza. Em seguida, dá um nó no centro do papel, se você conseguir desfazer o nó, te dou um beijo! Luiza, atrapalhada, puxa o papel da mão dele. Ela tenta, mas não consegue. Ele o toma e afrouxa o nó. Ela finalmente desenlaça. Mesmo sem óculos, consegue ler: Surreal, em letras douradas, é o nome do bombom. A timidez em Luiza é proporcional ao seu desejo. Arthur arremata: quero meu beijo no escuro! Levanta-se da mesa e caminha em direção à praia. Ela o segue, o barulho das ondas do mar confundi-se com as batidas de seu coração. Arthur tateia o rosto da moça até encontrar seus lábios, o beijo acontece.
Laura questiona: Porque não pode beijar? Ele desconversa e continua a cheirá- la, com a cobiça de quem cheira a panela vaporosa do almoço de domingo. Ela insiste. João com um meio sorriso, Vou lher fazer uma proposta irrecusável : se você for embora comigo eu te explico o por quê. Laura não consegue distinguir o que é maior: sua curiosidade ou a vontade de voltar para dentro daquela jaqueta. Laura encosta seu queixo no peito dele, sente uma estranha tranqüilidade, aceita.
Luiza chega em casa com o sol, deixando por todos os lados o rastro-areioso da sua noite. O suspiro fica pela metade, adormece.
O silêncio do João contrasta com a barulhenta Augusta. Ele sabatina Laura com perguntas, evitando à sua. Laura acha graça, pensa que ele está levando a sério a premissa do seu personagem: nunca deixe que as pessoas saibam o que você está pensando. Dispara: E a historia, João? Como num passe de mágica, ele a coloca em seu colo, caminha com ela, em seus braços, entre putas, bêbados e trailers de cachorro-quente. Seus olhos dizem coisas que Laura não saberia traduzir. Em frente ao prédio dela, minha história é uma mulher. Pressiona as mãos dela com carinho e diz ternamente um cuide-se, parte. Laura deixa escapar seus pensamentos: afinal, o homem que não se dedica a família, nunca será um homem de verdade. Volta-se para rua, procura seu Poderoso Chefão pela última vez. Não consegue. Ele é apenas mais um entre os outros homens.
Luiza acorda com um gosto doce na boca, não lamenta ter perdido toda a manhã e parte da tarde. Os latidos anunciam a chegada de alguém, abre a porta da varanda e vê Arthur, sorridente ele diz: Você é Real! Aponta para o horizonte e a convida para ver o Arco-Íris.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O Perder Confidenciado Por Bel, uma linda colaboradora
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Teletransporte
Lá em São Miguel não tem fumaça, mas tem um monte de Maria que entra no trem. Eu sento na janelinha e olho pro céu, o céu estrelado de pipas. O que para os meninos é guerra, pra mim é balé, toda vez que uma pipa é cortada, faço um pedido, viro pipa-cadente! Na estação, afundado na cadeira, o gordo velhinho português alisa cal-ma-men-te seu bigode com um pentinho de bolso. Perco-me pelas ruas, que parecem labirintos de tão tortas, a molecada aproveita e brinca de pica-esconde enquanto a vizinha pede o açúcar e o cheiro de churrasco dos carrinhos nas esquinas deixa tudo com sabor de domingo; o rosto cansado sorri pra mim; o rádio de pilha, xia, xia, mas o sambinha cadência a “pelada” de rua, diz o refrão: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”
É, Outro dia resolvi mudar o itinerário, nem precisei ir longe, peguei um ônibus e desci na Oscar Freire. Lá não tem criança descalça jogando bola, aliás, não vi nenhuma rabiola presa no fio da rede elétrica pra contar histórias, porque afinal, nem rede elétrica tem pra brincar com a memória... Em compensação, Audrey Hepburn (s) e Jack (s), versão Onassis, passaram por mim, com seus óculos grandes , roupas pretas e roxas. Uma coisa que me impressionou foi a quantidade de “cheiros”, cada loja tem o seu, o que faz com que a rua seja um verdadeiro mosaico de fragrâncias ao ar livre. Lá na Oscar-Freire até as sapatilhas têm cheiro, de chiclete de tutti frutti, aaaaa mas são tão bonitas, Melissinhas de todas as cores e brilhos. Uma delas, inclusive, fica em uma redoma de vidro que gira no centro da loja. Eu venho de um mundo em que só as coroas das rainhas ficam em redomas de vidro, mas aí pensei, será que se eu colocar essa sapatilha deixo de ser gata- borralheira? Eu ouvi, juro, bem ao longe uma canção, quase um sussurro, dizia assim: “Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia. Quem brincava de princesa acostumou na fantasia”
Qualquer dia desses vou para uma tal de Vila Madalena, quem quiser ir comigo é só falar, ouvi dizer que é a terra da boemia, diz a lenda que vivem por lá: O bêbado e a equilibrista!
Mas o que eu queria mesmo é que os “mundos” não fossem assim tãoooo distantes, podia ter pipa cheirosa...
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Por aí
A moça

Um passarinho morto em seu caminho?
O sino da solidão que bate-bate...
Volto pra cama
Não Sonho – só respiro
Acordo, trabalho – transpiro
Volto – suspiro, suspiro por um barulho, um afago, uma luz acessa...
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Uma Amora para Sua Estupidez
aquela árvore magricela com folhas esparsas
aquela com as folhas murchas
que a luz perpassa
Eu sou essa árvore carregada de amoras
no meio do concreto e das buzinas
é tanto barulho que você demora
mas um dia, por descaso, você vai provar
Uma amora. uma. apenas uma
Eu vou explodir na sua boca
todo meu líquido viscoso
gostoso
Eu vou escorrer por seus lábios
e manchar sua roupa
lavar
clariar
furar
arrombar
mas
não vai adiantar
furioso,
me fará de pano de chão
e nem assim vai passar
por quê?
pra limpar a sujeira
e te fazer lembrar
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Você tem fogo?

Houve um tempo em que fumar era charmoso, tudo estava envolto em fumaça: músicas, t.v, desenhos, filmes. Veja você, no YouTube se quiser, os Flintstones já fizeram propaganda do Marlboro. Você consegue imaginar Humpert Bogart, em Casa Blanca, sem seus cigarro - pensantes? Por favor, politicamente corretos, não digam o óbvio, a indústria do tabaco forçou essa aparição! Me deixem com a fugidia tragada do romantismo.
Sei que um dia, em um Inferninho qualquer, não direi nada além de: “Come on baby, light my fire”... É, mas os tempos são outros, pelo que parece, os moçoilos adotaram o eufemismo: “ vou ao banheiro” . Outrora, eles diriam: “vou comprar cigarros na esquina”. Prefiro o último, acho mais poético, mas pode ser que eles achem o outro mais higiênico!
Um dia desses, uma fumaça me contou que uma senhora de 75 anos, portuguesa, de sotaque adoravelmente carregado, adentrou o consultório de um psicólogo para sua primeira consulta. Antes mesmo de sentar, caminhando com dificuldade, perguntou: posso fumar? Se não posso, não há problema, vou embora!" Depois de uma ligeira paralisia, ele fez sim com a cabeça. A senhora acendeu seu cigarro; o psicólogo, que é fumante, a acompanhou. Entre uma tragada e outra, a portuguesa explicou: "Doutor, já vivi muito, estou com câncer no pulmão e meus filhos só sabem pedir para que eu pare de fumar. Todavia, o Sr. acha que Sartre escreveu O Ser e o Nada sentando em um café à toa? Eu não estou aqui porque tenho medo de morrer, eu estou aqui porque quero me entender... Eu não quero viver pra sempre, aceito a morte como um dado da vida e o cigarro como um prazer que me humaniza.
O mais acertado seria calar-me diante de tão sábia senhora, mas como não estamos aqui pelo certo, e sim pelo fogo, digo: estou cansada das mãos ostensivas que impõem campanhas de humanos perfeitos, sem vícios, sem erradas falas, sem atos impensados...
Não sras. e srs., eu não fumo. Mas gosto de pensar que a milhas de mim mulheres enrolam charutos em suas coxas, presos encontram no cigarro a sua liberdade, o caipira matuta com um cachimbo no canto da boca, a garota ansiosa devora o maço na esquina e, acima de tudo, que a qualquer tempo, um Álvaro, Campos ou Fernando possa escrever:
"Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino me conceder, continuarei fumando "
Só aquele que tem vícios pode ter alma.
Nota: Flinston no YouTube http://br.youtube.com/watch?v=nL53aIEgTxo
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Colaboradores
Hoje serei criança
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Diálogo

A Eternidade fica bem ali, na esquina da Cardeal com a Henrique Schaumann. De lá, só ouço o silêncio.
Foi lá que, há muito tempo, Maria escreveu:
meu guia e motivo eterno
de minha saudade e de meu pranto”
O dia de Maria chegou e alguém escreveu:
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
O Pé de Manacá
