terça-feira, 8 de dezembro de 2009

À saudade

Saudade tem sabor de guarda chuva molhado que amarra a boca em dia de ressaca.
É cachaça, penetra no corpo e faz transpirar
Se for das “marditas”, te fará suar em bicas
Tem o peso do seu corpo sobre o meu
Dói como seus dentes mastigando a minha boca
Tem o contorno do seu ombro que me escapa no vazio
A saudade faz dos meus sonhos pau-de-arara. Eu grito por liberdade, mas ninguém me escuta. Nada toca mais alto do que os Beatles que nos embalam
A saudade fede a solidão
A solidão é de quem fica

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pitada Depressiva



PS: Angeli... não encare como pirataria, encare como uma divulgação do seu belo trabalho

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Bresson, quero brincar!

Semana passada fui ver a exposição do Bresson, conhecido pelo seu brilhantismo em captar o cotidiano ao ponto de elevá-lo ao extraordinário, apressava-se em dizer que o extraordinário acontece com frequência.
Experimentei, caminhei pelas ruas procurando o sublime que se mostra no corpo. Comprovei mais uma vez a genialidade do fotógrafo - depois da frustração de não conseguir as fotos desejadas -, resolvi abrandar a tristeza, descrevendo-as. A partir de agora, fique de olhos bem abertos:
Imagem1 – As três moças da rua Avanhandava
Caminhava pela rua, quando reparei em três moças encolhidas umas nas outras, unidas de tal modo que fez lembrar a Medusa, tentavam em vão proteger seus vestidos curtos do vento forte, ao fundo, senhores vestidos elegantemente observavam a cena.
Imagem 2 – Dois ganhadores de um único jogo
Em uma esquina no centro da cidade, dois garotinhos brincavam de apostar corrida em volta de um canteiro. Até que um deles desistiu ao perceber que não alcançaria o outro, o duelo estava perdido. O outro, quando notou que perderia o parceiro de brincadeira, diminuiu o ritmo, deixando que o adversário ganhasse. Acredito que só Bresson conseguiria fotografar o momento da vitória: o do primeiro porque ganhou e do segundo porque brincava.
Cena 3 - Área para fumantes
Finalmente consegui tirar uma foto, mas confesso, essa foi fácil. Os cativos, digo, fumantes, não podiam se movimentar muito durante o ato. A cena cotidiana me chamou atenção pela (...). Diga você, o que vê?

Eu só quero brincar...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Será que merecemos um apocalipse?

Será que merecemos um apocalipse?
São tantas teorias, inúmeros filmes, muitos são os materiais que falam do fim. Do pó, do sumiço, do famoso “já era”.
Epidemias globais, meteoros, terremotos, tsunamis, guerras nucleares, profecias, 2012, o Sol.
1999 passou incólume tirando alguns casos isolados. Não fomos beneficiados pelo fim nesse fatídico ano. Alguns que pensaram sobre e viveram loucamente a véspera do “fim” começaram o ano 2.000 fechando parcelamento bancários.
Dez anos se passaram e mais um fim é anunciado. Faltam-nos 3 anos segundo as previsões que colocam 2012 como o ponto final sem reticência na historia humana. Mas enfim, será que nós merecemos isso? Somos dignos de não termos mais o sofrimento, as angústias e as lamurias que todas as gerações viveram sem apocalipse? Somos merecedores de não enterrarmos nossos amados? Qual nosso mérito para sairmos sem pagar a conta do cemitério?
E mesmo para os que ficam o apocalipse seria uma opção interessante. O espólio de um mundo sem alguns bilhões de pessoas deixaria a vida de quem fica mais tranqüila, pelo menos no que tange a esfera de recursos naturais e as próprias bem feitorias deixadas pelo homem, colocaria os remanescentes numa condição de vida confortável. Dependendo claro do tipo de apocalipse, mas enfim, acredito que espaço não faltaria.
Sinceramente, não sei e não há caminhos para saber, mas devemos admitir é muita pretensão acharmos que somos tão especiais assim em detrimento dos que viveram e morreram antes.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tempo e Espaço

Para meu amigo imaginário, Edu
O vendedor de pipocas abandona seu posto: a porta da Igreja. O relógio-grande marca dez para meia-noite. A máquina do redeshop não completa a transação, o dono da antiga farmácia irritado com o aparelho mostra seu sotaque português. Na porta, uma moça loira – de uma cor de cabelo que só existe nas telenovelas– flerta com o atendente, sua boca vermelha espalha um cheiro de chiclete ping-pong, com a destreza de uma jogadora, cruza as pernas.
No ponto de ônibus uma senhora pede dinheiro para o café, informa que já tem uma parte, mas precisa interar. A garota que espera a carona lhe oferece um pedaço de ciabatta. Ao fundo, vindo de um boteco, escuto a voz ardida do garçom que faz questão de dizer que é gay , se é que boteco tem garçom.
Uma punk onisciente para em minha frente. Uma digna Deusa da Urbanidade com seu enorme moikano de raízes vermelhas, o rosto de um branco tão branco que não encontro humanidade nele, suas roupas rasgadas reluzem a vitória de alguém que parece ter saído de uma guerra, que sem ao menos ter lutado consagrou-se vencedora. Ela me olha como se questionasse “ a minha alma” . Eu me pergunto, será que o “corpo dela apodrece?". Linda!
A transação é feita, o atendente embaraçado desculpa-se pelo transtorno. Caminho, a garoa mais do fina me acompanha. Um bêbado me encara, abaixo os olhos e seguro firme meu resfenol. Ele balbucia: o que é a vida? Senão a própria vida.
Levanto a cabeça e vejo dezenas de quadrados coloridos – as janelas vestidas com suas cortinas. Tal qual um caleidoscópio em que atrás das cores se revelam vidas.
A senhora pede dinheiro para a jovem no ponto de ônibus, ela repete não ter e que está ali só esperando uma carona. "É, mas a sua carona tá demorando, né? Você não quer esse dinheirinho pra pegar o ônibus?" diz a senhora-pedinte.
Miro o horizonte, aprumo meu caleidoscópio e pisco. Afinal, as combinações são infinitas.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rua das Flores


No coração da cidade, a Sé, existe uma rua chamada Flores. Mas não existem jardins lá, nas calçadas duras-de-sujas brotam seres humanos. Assim como você e eu, feitos de carne e ossos.
A placa de aluga-se amarela com o tempo. O prédio espera os moradores que não chegam. O degrau do portão é o travesseiro de quem não tem nada além de sua pele gasta. Um de nós sem endereço para receber cartas ridículas, como toda boa carta de amor. Sem porta para abrir e sentir o cheiro do café que vem da cozinha. Sem chão, sem teto.
Aos poucos, nos distinguimos, nós e eles. Transformamos humanos em animais. Nos recusamos a olhar para o espelho, do contrário, veríamos lindos cavalos adestros que só enxergam o caminho à sua frente. Cavalgamos presos aos nossos cabrestos sociais com sede de acumular egos ou cartões. Mas a esperança é que o Cabresto, por força ou acaso, se desfaça. Nerudas nasçam pra dizer que a dor de um ser morreu na vitória de todos.
O sono deles é a nossa insônia.
Um de nós dorme agora na rua das Flores.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Extra-extra-extra!

O Pitadas foi homenageado pelo Pulaomuro . Uma retrospectiva linda! Obrigada, Júlio!

Quem sabe um post?


Eu quero escrever tanta coisa, mas sou aquele velhinho que foi vencido pelo jabuti na luta contra o degrau de sete centímetros. Só me resta deixar as palavras caírem como pingos, aqui e acolá. Feito chuva.
*

Já passava da 1 da madrugada, a Consolação estava só. Chovia tanto que não havia espaço para maldade. Caminhei pelo meio da rua, faróis verdes ou vermelhos não faziam mais sentido. Em meus ouvidos: o choque bruto da água que cai contra o guarda chuva. Retardei o quanto pude os quarteirões que me levavam para casa.
**

Ela está lá, pendurada na porta do pequeno guarda roupa. Luiz Francisco* costumava passar cuidadosamente a camisa do seu Corinthians e saía pela rua exibindo a liberdade das grandes paixões. Faz tempo que ele não veste sua liberdade, com medo de que seu barraco suma sem mais nem porquê, ele não vai mais ao estádio.
***

A moça dança com a taça de dry martini na mão, no ritmo do rock n' roll mergulha dos dedos na taça e os desliza nos lábios do parceiro.
****

Solte seus cabelos, foi o que ele pediu a ela que sempre viveu com os cabelos presos.
*****

Abri um livro em um sebo e encontrei essa foto, deixei o livro, mas levei a foto.
******

Talvez, só talvez, tudo isso não passe de uma chuva tão forte que corre em direção ao bueiro e quando acaba, perguntamos: será que choveu? Com sorte, teremos sol amanhã.
* Luiz Francisco foi um dos entrevistados por Marcos Faerman na reportagem: Gênesis

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Perfume

A vizinha, nunca a vi, mas sinto o perfume de sua comida. Ela e seus aromas são os maiores inimigos da minha independência, tenho vontade de correr pra casa dos meus pais. Esperar o bife na sala, e pensar, boba que só, que o chiado que vem da cozinha é chuva. Cebola refoga!
Perfume me faz lembrar da dona Ana - ela tinha uns 60 e eu uns 8 - uma senhora suave com seus vestidos florais e sapatilhas de pano nos pés, caminhava sem pressa, carregando uma sacola de feira cheia de frutas. Percorria a vila vendendo as delícias do seu sítio. A minha fruta preferida era a Laranja Lima, raramente tinha na sacola dela. Não à toa,representava muito espaço, peso e baixo custo. Para comprar minhas laranjas, tinha que acompanhá-la até sua casa, era sim lá no interior. A casa sempre fechada e muito escura. Ela pedia que eu esperasse e ia abrindo aos poucos as janelas e portas da sala em direção à cozinha, a casa cheirava a pomar: banana, abacaxi, laranja, manga. Laranja Lima! O idioma da dona Ana era o da dúzia: meia dúzia, uma duzia, duas dúzias. Eu dizia: quero quatro, dona Ana. Ela, meia dúzia, né fia? Eu concordava. Era sempre a mesma coisa, mostrava as laranjas e depois sumia pela casa adentro a procura de uma sacolinha, escutava ao longe o barulho do plástico e o arrastar das sandálias em atrito com o chão. É, a casa da dona Ana era como um perfume lacrado, quando ela abria a porta, no breu, sem saber ao certo onde estava, sem ver nada, meu olfato era aguçado de uma maneira que, sentia violentamente o buquê das frutas invadir o meu nariz.
Como os sentidos se completam, corria pra casa e pedia para meu pai descascar, ele fazia o chapeuzinho do vovô - é quando você não parte a laranja ao meio, só faz uma tampinha bem pequena. Infalível, sempre doces as Laranjas Limas.
Há alguns dias uma fragrância me acompanha, não vem da vizinha, nem de algum pomar longínquo. É a essência de uma pessoa, seu perfume: essa junção de elementos que o tornam único. Maior que minha curiosidade, só o meu medo. Sem pulmão para respirar fundo, inalei paulatinamente o moço. Temi a embriaguês. Mas como um sentindo leva ao outro, ainda sinto seu gosto na minha boca.
Há quem diga que, quando se vive o mágico, leva-se seus fragmentos por toda a vida. Assim como dona Ana que vendias as frutas, mas retinha em sua casa o perfume. Guardo as essencias que a vida me dá no silêncio da minha memória, e, aos poucos - diante da visita - vou abrindo as janelas da minha alma.
*****
Convite para um Baile Perfumado

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Cooperifa

Era quarta – feira, porque quarta-feira é dia de Cooperifa, faça chuva ou mais chuva. Os índices pluviométricos alertavam que não chovia tanto no mês de Julho desde de 1943. E a cidade que não pára, não deixava ninguém prosseguir no trânsito. Mas chegamos, com muito frio, mas há tempo. O Guilherme que já conhece e sabe o que é bom, pediu um escondidinho e duas cervejas pra aquecer o corpo, pois a alma estava reservada à poesia.
O simpático Márcio Batista, exímio Anfitrão, sentou-se em nossa mesa e aplacou a sabatina dos perguntadores. Contou que, a Cooperifa surgiu de uma idéia de Sérgio Vaz, em 2000 reuniram-se por volta de 50 artistas e 200 pessoas em uma fábrica vazia em Taboão da Serra para um sarau. O grupo se expandiu e passou a se apresentar no bar do Bodão, também em Taboão da Serra, os sócios venderam o bar e os poetas choraram sem ter espaço para os encontros. Porém a cooperativa encontrou seu canto e, a partir de 2002, o reduto tornou-se o Bar do Zé Batidão, Piraporinha, Zona Sul de São Paulo.
Para Márcio, quando os moradores da periferia olhavam para o futuro, viam refletidos no espelho dois destinos: “ o do trabalhador que deu certo e do marginal. A Cooperifa mostrou que outro caminho é possível, o mundo das artes e da comunicação”. Como esse caminho passa pelo conhecimento, muitos moradores voltaram a estudar.
A Cooperativa de poetas é um espaço aberto à poesia, rap, esquetes teatrais, crônicas e, também, um divulgador de outros eventos culturais que acontecem na região.
Quem vai à Cooperifa é cooperiferico, quem fala ao microfone é poeta. Então, façamos silêncio: o sarau vai começar. A poesia é uma prece, e a única regra durante a oração é o silêncio.
As estrelas da noite vão passando e nos encantando com os sons, as cores, as paixões e os desejos de suas poesias. Até que, Sérgio Vaz, idealizador do projeto, recita Porém, nele: “ As palavras sempre me vieram como culpa e não como estrelas”. Ainda sem ar, escuto o poeta Fuzil, conhecido como metralhadora de palavras, dispara Ferreira Gullar em Bomba Suja: "Quem come o arroz que ele plantou?"
Ph Mc, um garoto de aparentemente 15 anos, com rap nos olhos e muita vontade nas mãos esbraveja: “ nossa alma jamais vão trancar”. Quando me pergunto, é isso que se produz aqui? Wesley responde. "O que se produz na geografia da Dor? Eu digo: beleza, força e vivacidade. É o que se produz". "E amigos e inimigos debaixo do mesmo teto", segundo Márcio.
Assim como a árvore que assiste a tudo, bem ao meio do bar – o palco dos poetas – a Cooperifa também tem raízes, outros projetos e eventos. Entre eles o Joelhaço: homenagem ao dia internacional da mulher, em que os homens se ajoelham, simbolizando um pedido de desculpas pelas agressões cometidas. Balões com poesias são soltos ao vento em abril. Chuva de livros, uma vez ao ano, todos os presentes no sarau ganham livros. Cinema na Laje, com sessões de documentários sobre a periferia.
Olhando os poetas, percebo que estou longe de dar conta do vivido. Esses retalhos de poesias transcritos aqui, não são nada perto de tudo que eles tecem. Mais importante que dizer o que é a Cooperifa, é viver a Cooperifa. Tomo para mim, as palavras do cooperiferico Quintela, sobre uma conversa com Sérgio Vaz: "Eu não choro por uma rudez minha, mas dá vontade”

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Rabisco de Fábula

Marianinha é o nome da mariposa teen, é assim que ela se define. Sempre com as asas rigorosamente lisas, por sua aqua-chapinha, que alisam sem retirar a umidade e o brilho de suas asas.
O sonho de Marianinha , a mariposa, é ser uma borboleta. Seu pais não entendem o porquê disso. É sempre um bater de portas, horas ao telefone e muitas lágrimas, tudo por um único motivo: ser o que é - uma mariposa.
Para seu pai, é uma ofensa, geração após geração de mariposas e Marianinha querendo ser borboleta. Nos somos raros, borboleta tem em qualquer lugar, mariposa não! Mas não adianta, não há quem consiga fazer Marianinha arredar asas de sua vontade. Sonha em ser uma das bailarinas do conservatório Floral das Borboletas do Além Terra. De repente um grito do quarto de Mariana – que não passa de uma fissura no tronco de um Ipê roxo - Com os olhos arregalados lê: Concurso Seja Uma Super Pop Borboletinha. A revista Carrapicho promete transformar qualquer espécie voadora : abelha, mosca, mariposa etc... em uma super pop borboletinha. Basta enviar uma resposta dizendo porque você merece ser escolhida .
Marianinha enviou duzentos e cinquenta e-mails e uma animação. No dia do resultado, escondida de seus pais, bateu asas e voou em direção ao seu destino. Em sua pink mochila, seus talismãs: sua aqua-chapinha e o brochinho que sua avó lhe dera quando ainda era bebê – uma mariposa e uma borboleta de mãos dadas . No meio do caminho, uma bifurcação, e ela não sabia para onde ir, à direita ou à esquerda? Encontrou um Grilo lindo, nunca tinha visto um tão elegante, de um verde que se desprendia no ar. Perguntou se ele conhecia o Jardim Novo Mundo. Ele disse que era funcionário do pedágio, e que, pela nova aerovia, chegaria muito rápido, só que para isso, deveria deixar algo de valor com ele.
Marianinha abriu a mochila, só havia seus dois talismãs. Pegou o broche, mas lembrou da sua avó, dos domingos de cafuné e bolinho de chuva, recusou. Ofereceu a aqua-chapinha. O Grilo insistiu no broche e provocou: pela aerovia eu garanto que chega antes do anoitecer, mas pelo outra caminho, com o ar rarefeito e todos os perigos da floresta não saberia dizer. Marianinha, apesar de mariposa, tinha pavor do escuro. Respirou fundo, abertou a Pink mochila contra o corpinho e seguiu pelo caminho mais longo, mas com broche.
Cansada de voar, resolveu parar à beira de um lago. Já estava anoitecendo, logo seria revelado a ganhadora do concurso e ela ainda estava muito longe, perdida. Foi quando ouviu um barulho. Quase um arroto. Pensou, quem é o porco? Mas não era um porco, era um sapo. Flavinho, o sapinho gente boa. O sapo questionou: o que uma mariposinha faz uma hora dessas longe de sua árvore? Marianinha lembrou de seu pai: fique longe dos sapos. Quando eles abrem a boca... Mas sem que, nem porquê, simpatizou com o Flavinho. Talvez por conta de seus suspensórios. Concluiu silenciosa: ah! uma pessoa malvada não usaria suspensórios coloridos. O sapo achou a história estranha e emendou: eu nunca quis ser príncipe, mas, contemporizou, cada bicho com sua espécie, né?
Esticando seu suspensório ordenou: Marianinha, suba nas minhas costas, vou te levar ao Jardim Novo Mundo. Ela aceitou, e de pulo em pulo chegaram em um suspiro. Foi um susto desejado, quando dizeram seu nome. Ela chorou por dentro, já que esquecerá de passar o rime à prova d’agua, e não convinha dar uma de mariposa, agora que seria borboleta. Borboleta não chora, ri, disse o anunciante da Carrapicho.Você será uma super pop borboletinha luminosa. Ninguém a reconhecerá. Nem meus pais? Nem eu, perguntou o Flávinho. Ninguém. Além da transformação corporal, faremos uma educação celebral. Você terá lembranças borboletais, nunca saberá que um dia foi uma mariposa na vida. Não é fantástico? Marianinha chorou, não se importou em borrar à fantasia, doeu abrir mão de seu sonho. Escolheu o caminho mais longo, à sombra das mariposas ao sol das borboletas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Dia estranho

11:00 -Há dias que está tudo certo. Post feito. Avenida reta. Um carro cruza o farol vermelho e te abate. Foi o que aconteceu, hoje, com a senhora que cruzava a avenida Francisco Matarazzo, esquina com o Parque da água Branca, foi atropelada pela vida. E o post certo, agora, é o errado.
Antes:
9:30 - Acordei com o telefone tocando, minha irmã me despertou, pois esqueci meu despertador, o meu celular, na casa dos meus pais. Estava saindo de casa, quando lembrei que esqueci de colocar água para planta - deixei a porta entre aberta - foi o tempo de buscar água e abrir a janela, quando voltei à porta, tinha um homem parado. Dei um grito falho - um daqueles momentos que tudo parece em câmera lenta - e questionei: o que é isso? O homem pediu desculpas e saiu. Foi para o apartamento 121, perto do elevador. Moro no 125, meu apartamento é no canto e o último do andar, não dá passagem para nenhum lugar, não há motivo para alguém ir até lá, a menos que vá até minha casa. A visão daquele homem olhando minha casa, me assustou. Claro que me senti invadida, minha bagunça de dias à mostra, mas foi bem mais do que isso. Nunca senti medo de morar sozinha. Mas ver alguém dentro da minha casa, sem o meu consentimento, me tirou do eixo.
10:25 - O caixa do banco sorridente perguntou: Tudo bem? Aquilo foi tão estranho, alguém que não conheço perguntando se eu estava bem. Respondi comercialmente: tudo bem.
10: 45 - Um homem exótico entra no ônibus, ele era bonito, mas um bonito-desconhecido, não consigo definir sua nacionalidade. Latino Americano sim, mas com um tom de pele que foge do branco ou moreno, olhos que lembram os dos chineses, porém claros.
11:00 - Ele desce, o trânsito para dentro do túnel, a ambulância tenta passar, é o anúncio do acidente - sua sirene constrange todos os passageiros, não era a sirene usual : íon,ionn, era continuo, parecia a representação do quadro o Grito, continuo em sua angústia.
12:00 - Chego no trabalho, antes de entrar, percebo que o moço que sempre cruza comigo na mesma calçada, mudou de lado.
Tudo parece tão calmo agora, olhando pela janela: a mesma planta seca no quintal;as mesmas paredes; a mesma escada abandona no canto; o mesmo sol de inverno. Só não sei precisar a razão dessa “inquietude” que corre sem parar entre meu estômago e meus olhos.


Ps: O post "certo" fica para semana que vem, se a vida não me atropelar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Casanova Apaixonado

Para você, meu grande amigo
Mauss me contou que a vida é uma grande peça, em que nós - os “atores” - alternamos a interpretação dos mesmos personagens ao longo da história. Eu bem que tento contestá-lo, mas fica difícil quando se tem como amigo o Casanova. Não, ele não anda com perucas empoadas, tampouco faz pinta com lápis no canto da boca. No entanto, não fica mais do que três dias sem que uma mulher se perca em seus braços.
Se a resposta do porquê, de cada personagem ser do jeito que é, está na estória, busco na vida do meu amigo a explicação. Mauss cochicha no meu ouvido: “os meios são modernos - jeans, mp3, fugas pelo elevador de serviço - mas a construção do personagem ou da pessoa é tradicional. A resposta está na sua família, nas suas angústias, nos seus desejos. É, tenho que concordar com Mauss, nossa versão moderna de Casanova, assim como a antiga, tem uma relação conflituosa com seus pais. Ele se dividi entre admiração e repulsa, amor e excitação.
Seus pais se separaram quando Casa tinha 5 anos. Ulisses, seu pai, sempre foi um grande amante, mas relapso como pai e marido. A fidelidade dele é um fogo que arde sem doer, posto que é chama, e se apagou sem que a mãe de Casa visse.
O pequeno Casanova cresceu observando uma mãe que espera o retorno de seu amado, mesmo após 20 anos da partida. Isabel tece e retece sua colcha imaginária, com esperança que Ulisses volte antes da agulhada derradeira. Mas o propósito da vida de Ulisses é o mar aberto das grandes paixões – o ganhar ou perder, tudo, numa mesa de pôquer. Casa é o melhor amigo da sua mãe, sempre foi o preferido dentre os filhos. O convívio com ela fez dele um homem capaz de ler os sinais femininos. Em seu baú de brinquedos se encontravam bolas de futebol e colher de pau. Tornou-se habilidoso no trato de agradar o outro e, principalmente, se o outro é uma mulher. Um artista da diplomacia e desenvolto cozinheiro. Mas ao contrário do que você pode pensar, ele não faz pratos requintados, desses que os meninos fazem para impressionar as moças, nada de ervas finas. Ele prefere fazer massas, e amassá-las com as próprias mãos, com os braços fortes que o tempo lhe deu.
Casanova e seu pai nunca se entenderam. A liberdade imperativa dele é como uma esfinge que Casa nunca ousou tocar . Afinal, todas as idas e vindas amorosas acabaram por respingar nele, traduzidas em ausência, negligência e mágoa.
Se na versão “original”, Casanova era filho de uma mulher subversiva para a época, uma atriz com um homem casado, que ele jamais conheceu. Na versão “moderna”, Casa tem uma mãe idealizadora, quase a parte do mundo, que contraria as paixões em série de seu amado, tece sua colcha: agulhada- após-agulhada, dia-após-dia.
Os mundos opostos de seus pais, fizeram do meu amigo um cético. Para ele "a satisfação amorosa é a morte do desejo", sem vislumbrar a eternidade, ele se lança em noites vorazes. Amor eterno para Casa, só na lembrança de uma noite de paixão.
Outro dia, perguntei como ele conseguia permanecer ileso diante de todas aquelas mulheres. Sem nunca se encantar por alguma. Ele revelou “é como se eu fosse um para cada uma delas, mas eu nunca sou todos que posso ser ”. Porém, se nas estórias sempre acontecem grandes reviravoltas, a vida não poderia ser diferente. A campainha tocou de manhã, abri a porta e um vento invadiu a casa. O vento mudou de curso, Casanova está apaixonado. Sentem-se, pois a peça só está começando...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Pinga, papo, petiscos & Paradiso

Tudo começa no bar....
O Claudio – hermano pra mim, Mil para Blog - que, por vezes, da honra da sua graça, aqui, no pitadascotidianas, engatou uma conversa sobre o Cine Paradiso. Ele estava um tantinho revoltado com a história do homem que se propôs a ficar cem dias e cem noites, fizesse chuva ou sol, debaixo da janela da sua amada, para provar o seu amor. “ Cem dias!!” exclamou o hermano: por que não 15 dias? Já seria o suficiente!! No filme, o Alfredo contou a estória para Totó que não titubeou, plantou guarda na frente da janela da Elena, a sua amada.
**
Eu fui pra casa, era uma sexta – feira tão fria que nem o Del Rey foi capaz de me animar.
Na hora de dormir fiquei pensando no Cine Paradiso, no meu trecho preferido do filme, que farei suspense.
***
Antes, eu quero te perguntar uma coisa.
Você já sentiu que conhece alguém, mesmo não conhecendo? De repente você está em um lugar qualquer - uma roda de samba, uma padaria, na esquina de casa - e a pessoa aparece, você nunca a viu, mas você a conhece. Não do passado. Não que lembre alguém. Parece confuso, mas não é. Você a conhece, mas não é um conhecer de saber as preferências dela. É um conhecer sem palavras. Sem saber dizer o quê ou como.
Assim é a minha pessoa, você deve ter a sua. O meu é amigo do amigo do amigo, nunca cheguei a trocar mais do que cinco frases completas com ele. Não que eu não quisesse, tenho um mundo de coisas pra falar, mas fico Noel: perto dele me calo, tudo penso e nada falo.
Ele é definitivamente o Cara Estranho que chegou e não quer perder aquilo que já tem, exibe à frente um coração que não divide com ninguém. É como se ele vivesse a alguns centímetros do chão, ele não flutua em um mundo encantado, se nega a pisar. Me olha com a mesma curiosidade que vive, pelos cantos, sorrateiro, uma sombra do seu próprio fantasma. Eu finjo que não vejo, até porque não consigo ir mais além nesse muro...Mas como eu quero que o moço deixe de ser a sombra atrás cortina , sim, eu sou quem espera um gesto debaixo da chuva.
Só por um dia, segurar sua mão sem pressa, dançar com ele de pés nos chão e olhos fechados e, mesmo que só por uma noite, fazê-lo entender que estar Aqui - e Não Lá - em chão firme, por mais duro que seja, ainda é a melhor resposta.
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A minha parte preferida do Cine Paradiso é quando o Alfredo agarra o pescoço do Totó e, antes de sua partida, sussurra em seu ouvido: “ Vá e não olhe para trás .Vá e não volte jamais”. Alfredo temia que Totó, assim como ele, nunca partisse...
No final das contas, o conselho do Alfredo pode servir tanto pra ele: o Cara Estranho, quanto pra mim e meu conhecimento mudo. Talvez seja a hora de partir e não voltar mais para coisas tão simples e tão assustadoras quanto um beijo e uma lágrima.
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Eu não sei se foi Pinga, papo, petiscos ou Paradiso demais, mas Maguinha, já que foi no seu dia, Feliz Niver. Muitos PPPParabéns!!!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tempo

A inocência contida em tolos gestos
A rosa estendida
Rajadas de luzes
O perfume das flores
Jardim sem fim: as falas de amor

A moeda incessante, gira,gira, gira...
Olhares falantes dentro de mim
Só, escuto um grito
Uma alvorada de formigas tomam meus pés...avançam pelo meu corpo
Silêncio

A rosa estendida
O braço serrado
Vaso sem flor
Passos sem sincronia

Tempo, tempo, queima
E me leve pra bem longe

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Postizinho besta


Porque felicidade é coisa à toa:

É esse vento frio que vem da janela
Acordar com João Gilberto
Trocar o sapato pelo moletom
Estar na esquina da sua vida,
sem saber o que vem pela frente
Olhar pro céu, e ver a lua cheia
É saber que, em algum canto da cidade, tem amigo que torce para que o mundo gire a seu favor
O cheiro do seu prato preferido
Pedir uma revista e ganhar duas
É sentir a primeira nota que vem do piano
Ter alguém que te entenda, sem que seja preciso dizer
É beijar o desconhecido de olhos fechados
"A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar"

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Abaporu

Amélia tem 81 anos, mora com a filha há dois, divorciada há quarenta e sete anos. Sabe que pouco resta do que viver, sem lágrimas ou penar – sabe que muito já viveu, detesta essa ode de vida eterna e os empenhos científicos para a "cura" dos radicais livres. Amélia é do tempo em que se comia manteiga Aviação no café e que os casamentos duravam até que a morte os separem. Mas o dela foi diferente. Ela surpreendeu a família e os amigos ao pedir a separação. Pedro era do tempo que se andava de carrinho de rolemã nas ruas da Vila Mariana e que o presente ideal, do garoto de quinze anos, era o ingresso para o melhor puteiro da cidade.
Pedro e Amélia casaram-se por amor, com toda a pompa e circunstância. Isso significou: vestido branco e noiva casta, mas não obtusa. Noivo de barba feita e flor na lapela.
Para a família, o que ficou foram as fotos, uma delas, serve de decoração na casa de um dos netos, como se fosse “bibelot” na entrada. Pedro e Amélia mantêm relações amistosas, bem diferentes do casamento. Nunca encenaram cenas de ciúmes e brigas sem sentido. As brigas eram cerradas por olhares duros. Amélia, sempre foi uma mulher à frente de seu tempo, mas nunca fez estardalhaço disso. Acompanhava de longe as escapadas do marido e doía aos seus ouvidos os aplausos da sociedade. Era como se todo seu amor estivesse em uma ampulheta, e fosse se esvaindo para o outro lado, o seu lado “mulher”. Até que um dia, ela pediu que Pedro fosse embora de casa. Pedro não questionou. Embora sem chão, ele sabia que seu amor por Amélia não bastava. Não era ingênuo ao ponto de propor mudança. Sabia o que fazia dele, Pedro.
Amélia sempre foi uma mulher discreta, viveu bem ao lado dos filhos. A casa era ponto de encontro dos amigos, por sua abertura. Em silêncio, orgulhava-se de ter apostado em si, no que acreditava: em relações justas, em não compactuar com o machismo, que para além dos homens, sabia que grudava, feito música ruim, no pensamento. Não casou–se novamente e não se sabe que tenha tido outras relações. Pedro zelou pelo filhos, a seu modo, com cuidados com a educação e obrigações com o futuro. Casos não faltaram, seu olhar forte e seu toque - há um só tempo: rude e protetor - sempre agradou às mulheres.
Amélia sente que o tempo mudou, mesmo que o vento ainda seja brisa. Diverte-se com as peripécias amorosas de sua neta. Percebe que daquela mulher, que um dia foi árvore, pouco ficou, restam apenas as folhas. De quem, pouco-a-pouco, desprende-se. Amélia caminha com dificuldade, e lhe resta apenas 20% da visão. Pedro, apesar das noites mal-dormidas, está firme, embora sua visão também esteja prejudicada. Ele também não mora mais sozinho.
Era fim do verão quando Amélia decidiu conversar com seu filho, o mais próximo, dos quatro. A voz serena mascarava o receio, pediu a casa dele emprestada para que se encontrasse com seu pai. O silêncio do filho constrangeu Amélia, e ela questionou: você acha a idéia asquerosa? Ela sempre foi de ouvir e fazer em silêncio. Infelizmente, Amélia não conseguia ver os olhos mareados de seu filho. Benjamim olhava para aquela mulher, alta e forte, mesmo sentada. Ela nunca questionou o porquê dele não querer casar e ter filhos, ou financiar uma casa. Em um tempo em que ser gay, era anormal. E hippie, marginal.
Benjamim, sempre admirou Amélia, mas surpreendeu-se com a mulher à frente, sua mãe, expressando a vontade do seu desejo. Amélia terminou: sinto que precisamos fechar nossa história.
E assim foi, numa casinha escondida em Pinheiros, Amélia e Pedro amaram-se por todo um final de semana. Benjamim chegava fazendo barulho, para repor o que faltava na cozinha. Via os vestígios de seus pais pela casa, ou melhor, pelo quarto e pelo banheiro, como dois adolescentes descobrindo-se, banheiro-quarto-quarto-banheiro. Mas, o único que sabe, além de Amélia e Pedro, o que realmente aconteceu na casinha de vila, é o Abaporu. Que cresceu tanto, que teve que ser abatido, mas está lá, e mesmo estendido no chão, presenciou o tatear desejoso de Amélia e Pedro, que transaram-que-treparam-que-fizeram- amor.

Ps: Como nada é por acaso, ou tudo é puro acaso, Abaporu significa homem que come.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quando não há palavras

Dia desses, esperando uma amiga no metrô Consolação, fiquei observando um bebezinho. Ele caminhava devagar e seus passos eram graciosamente descoordenados. Sua mãe, suponho, o segurava pela mão. A outra mão ele mantinha levantada, indicando o seu querer - que a outra criança, que estava à frente, a segurasse. Ele não disse nada, talvez não conseguisse, talvez não soubesse como dizer, mas permaneceu com a mão em riste . Muitos passos depois, a outra criança - um menino de uns 4 anos - entendeu seu desejo . Da maneira errada, mas imediatamente o menino segurou a sua mão. A descrição parece boba, mas me fez pensar em tantas coisas que não conseguimos dizer. Somos pequenos diante do que vivemos e ,por vezes, não há palavras para o que sentimos. Para momentos como esses, temos lágrimas, mãos. Corpo. Por isso, nesse momento, fecho meus olhos e estendo minha mão para meu destino. Desejo intensamente que ele me entenda.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Gostoso ser conduzido
Não definir o caminho
Ou pelo menos, não todo ele

Delícia cavalgar sem rédeas
Ao bel prazer do surreal
Fluir conforme a maré

Fácil é andar sem decisões
Na contramão das tendências lógicas
No refluxo vespertino
E tentar herdar o espólio irreal
Torcer pela fantasia e abstrair a sintaxe.

Nutri-se da fome rotineira
Surgir na alvorada escura
E fazer a fotossíntese lunar

Desejar sumir em um copo americano
Ser absorvido pelas raízes de uma árvore urbana
E por fim, plagiar tudo aquilo que ainda não foi pensado

Mas, por ora, elaboremos mais um orçamento.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Menino à moda antiga

Eu sempre acho que o mundo conspira contra mim, ou a favor, meus amigos já me explicaram que é o oposto. Eu conspiro a partir do mundo. Mas diga você se eu não tenho razão. Em um mesmo dia, um menino de 6 anos fez questão de abrir a porta do elevador para que eu entrasse , e um senhor de 70, após meu espirro ardido, disse: estimo melhoras. Homens à moda antiga. Me fez lembrar um certo menino...
Meu menino à moda antiga. Ele é calado, mas fala com os olhos. Antes de me beijar, segura a minha nuca. Depois do beijo, me aperta contra seu peito e beija a minha testa. Pergunta se pode me acompanhar até em casa. Segura a minha mão e me coloca do lado de dentro da calçada. Ele é íntegro e não cede a pressões, pensa no futuro e vive arquitetando coisas por aí...Eu envio e-mail pra ele, mas ele responde como se fosse uma carta: lê, pensa e recebo o e-mail-resposta depois de uma semana. Ele não tem coragem de dizer que não quer nada comigo, então diz: obrigado por ligar. O menino à moda antiga não é meu, é do mundo. E no fundo, fico contente em saber que, a qualquer hora, uma garota vai ganhar beijos em noites de lua cheia, andará abraçada debaixo da chuva e suspirará. Afinal, ainda existem homens à moda antiga.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Retrato

A qualidade da foto não é das melhores, mas eu asseguro que as maças do rosto do seu Aldo são vermelhinhas!
Ps: Quem quiser conhecer o seu Aldo é só ir até o bar Balcão em São Paulo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

TROCA DE PASSE

Por Júlio Canuto*
Esta era para ser uma crônica sobre futebol, mas como em São Paulo sempre sofremos com contratempos – que nunca estamos preparados -, é mais do que isso. Esta é uma crônica sobre o dia a dia do paulistano, que tem como um de seus principais momentos de escape, o futebol, onde extravasa seus sentimentos.

Preliminar:
Quinta-feira, 09 de abril de 2009. O São Paulo F.C. vai jogar contra o Defensor Sporting, do Uruguai, pela Copa Libertadores da América. Como todo são-paulino, espero ansioso, pois esta é a competição que mais gostamos, uma das que mais ganhamos e o sonho de todo grande time. Hoje em especial, pois ganhei dois ingressos para o jogo, numerados, no conforto.

18:00 hrs, chamo o Messias, torcedor são-paulino que trabalha comigo e tem certa semelhança com o mascote tricolor e saímos rumo ao Morumbi. Da Vila Mariana até o Morumbi é rápido, de carro com trânsito livre dá meia hora. O jogo é as 19:15hrs.

Saímos. Ligo o rádio do carro para entrar no clima. Já estão falando sobre o jogo. O São Paulo entrará com força máxima, brigando pela classificação e para manter a liderança do grupo. Já o Defensor entra um pouco modificado, 3 alterações em relação ao último confronto, no Uruguai. Sinto cheiro de goleada. A noite é quente, a lua é cheia, amanhã é feriado. Tudo propício para uma ótima noite.
Mas...

Mas estamos em São Paulo, e estes fatores têm também seu lado ruim. Primeiro: 18:00hrs = horário de pico = trânsito; segundo: véspera de feriado e calor = trânsito; terceiro: jogo no Morumbi = trânsito nas avenidas próximas. Transito, transito e transito.

Começamos a andar taticamente pela cidade, procurando uma brecha pela qual poderemos chegar à cara do gol. Tentamos uma rota: marcação cerrada, implacável, impossível passar. Tentamos outra, agora com sucesso, mas o caminho fica um pouco maior. Troco de estação no rádio. SulAmérica Auto. As instruções técnicas sobre o trânsito procuram ajudar, mas está difícil. O maior congestionamento do ano: 230km. Jogo truncado nas ruas de São Paulo.

Nos carros ao lado já vejo outros são-paulinos, todos no mesmo ritmo de jogo. Trocamos passes, pedimos um lançamento, e o jogo continua...

Triiiiiiiiiiila o apito o árbitro. Bola rolaaaando. Começa o jogo:
Começa o jogo no Morumbi. No carro, continuamos tentando o drible perfeito. O São Paulo entra em campo, mas o ritmo não é bom. São Paulo não anda hoje, está travado. O comentarista diz que Hernanes quer caprichar demais e erra passes, enquanto Arouca não repete suas boas atuações. Do lado de cá, Júlio se mostra apreensivo, não chega na bola, e Messias procura um espaço no trânsito, sem sucesso.

O teeeeempo passa, tooorcida brasileira. O locutor avisa: 38 minutos do primeiro tempo. Bola com o Defensor, cruzamento, Rogério Ceni vai fácil pra bola, espalma de forma estranha e... ela cai dentro do gol: Defensor 1, São Paulo 0.

“- Não posso acreditar!” – digo a Messias, ainda imóveis na Av. Morumbi.
Jogo tenso:

- “Caralho! Não acredito! Já perdemos o 1º tempo todo. Deste jeito vamos perder também o 2º” – acrescento.

E assim termina a primeira etapa.
No intervalo o time conversa. Muricy tenta ajeitar a equipe para a segunda etapa. Sai Zé Luiz e entra Dagoberto. O São Paulo vai pra cima.

“- Júlio e Messias, é com vocês. Entrem lá e virem o jogo” – falo que Muricy falou.
Aviso:

“Um gol meu e outro seu, Messias”

Finalmente estacionamos. Logo de cara uma advertência: R$20,00 pra deixar o carro na rua. Mas não nos abatemos e vamos pro jogo.
Morumbi lotado.

Tudo pronto. Comeeeeeça o 2º tempo.

O São Paulo vai pra cima, é outro time. Mais agressivo, nem sombra da apatia do 1º tempo. Dagoberto dribla, faz bons passes. Hernanes joga simples e bonito. A defesa se acerta, não dá espaço aos uruguaios. Um lance de perigo atrás do outro. A torcida incentiva, não pára um só minuto de cantar.

Bola na lateral, o atacante do São Paulo avança, invade a área, o goleiro sai, um simples toque pra encobri-lo e... na traaaaaaave. No travessão. Uuuuuuuuuhhhh.

Mas o tempo ta passando, chegamos à metade do segundo tempo. Bola levantada na área, Washington escora de cabeça e Borges pega de primeira, uma bola quase perdida que vai no ângulo: GOOOOOOOOOOOOOOLLLLLL, do São Paaaaaaaaulo.

A voz começa a sumir, ficamos roucos.

E maaais um ataque. Outra bola levantada na área, confusão, bate-rebate e... Olho no lance: ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ DO SÃO PAAAULO. CONFIRA COMIGO NO REPLAY, FOI, FOI, FOI, FOI, FOI, FOI ELE: DE NOVO, BOOORGES, O CRAQUE DA CAMISA Nº 17. Quando eram jogados redondos 28 minutos da segunda etapa, após a confusão na área com o bico da chuteira ele tira do goleiro e acerta o canto esquerdo da meta do goleiro uruguaio, sem chances de defesa.

Com este resultado o tricolor garante a classificação e fica a um empate de garantir também o 1º lugar no grupo.

Todos felizes no estádio! As bandeiras se agitam. O Morumbi é só festa. A festa está completa. O São Paulo administra o jogo no campo do adversário e ainda chega com perigo.

Agora sim, depois de um dia dificílimo, teremos tempo pra tomar umas cervejas, comer o lanche de pernil e comentar a partida e nossa fundamental participação no resultado. Demos sorte, precisamos ir mais vezes! Pois aqui dentro do estádio não há tempo para mais nada, o juiz apita: FINAL DE JOGO! Tivemos nossa porção de sofrimento, temperada com pitadas cotidianas de alegria, que deu o sabor da noite.
Troca de Passe é uma proposta de um texto com duas "visões" de um mesmo jogo, para ler a continuação acesse: http://pulaomuro.blogspot.com/ e veja como "as meninas", eu, também brincam de jogar bola. Aproveite e leia os textos coletivos escritos por Júlio e Leonardo, os caras batem um bolão!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O som da minha infância

Eu deveria ter por volta de 7 anos quando mais uma família mudou para a casa vizinha. Era curioso, mas as famílias nunca permaneciam na casa por muito tempo. Toda vez que uma família mudava, novos costumes eram instaurados.
Nenhuma das famílias me impressionou mais que aquela, não lembro nomes, me esforço, mas não consigo. Lembro deles: um casal e duas filhas. Eles tinham costumes curiosos, não havia lixo no banheiro, às vezes o encanador visitava-os, mesmo assim não alteravam o costume. A caçula, da minha idade, gostava de brincar de dentista e a mais velha vivia batendo portas, mais tarde descobri que isso não é tão diferente assim, na verdade, é bem normal, na adolescência. Mas o que realmente marcou foi o pai delas, ele tocava Jazzofone. Porém, nunca tocava na presença da família, e toda vez que ia tocar, fechava toda a casa. Quando eu o via fechando as janelas, sabia: era hora do show. Ele tocava por volta de 1 hora, eu sentava na escada, do lado de fora da minha casa, e ouvia. Até hoje não sei o que ele tocava, mas sentia. Por vezes lembro-me daquele homem - sozinho, fazendo música e abafando sua sonoridade aos olhos do mundo.
A lembrança de uma menina de pernas finas, pequena em relação àquela escada, ouvindo o som abafado que vem da casa vizinha é uma das lembranças mais fortes da minha infância. Esse é o som da minha melancolia.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Liberdade


Não sei se alguém reparou , mas na semana passada não teve post. Eu estava pensando em algumas possibilidades de texto, a mais clara era sobre o Pasv, um restaurante quarentão que fica na São João, a foto ao lado é um pedacinho do Pasv, o pedacinho que ficou do azulejo português. Ah! Mas os donos são espanhóis.
O texto, na maioria das vezes, surge aos poucos na minha mente, durante dias, frases e imagens ecoam, até que viram esses rabiscos que eu, despudoradamente, revelo a você. As imagens estavam opacas ainda quando meu irmão me ligou na tarde da quinta-feira. Por alguns segundos pensei que a ligação estava com algum problema, mas não, meu irmão chorava compulsivamente. Eu nunca vi meu irmão chorar daquela maneira, já o vi choramingar. É claro que meu irmão não é uma rocha, ele deve chorar como fazemos, quase, todos nós: no escuro das nossas casas, embaixo dos lençóis, no chuveiros, escondidos sempre - tendo nossas lágrimas abafadas por trilhas sonoras e secando nosso sal nos travesseiros. Mas naquele dia, a dor foi maior, muito maior do que orgulho, a vergonha de chorar ou de sentir. Às vezes penso que temos vergonha de sentir.
Só a morte é maior que a dor de ver, ou sentir, no meu caso, quem você ama sofrer. Foi assim que ele me disse: Tata, o Thor fugiu... demorou para ele terminar a frase e explicar: O Thor, o cachorro dele, estava em uma casa para cruzar com uma cachorra, aproveitou do relapso de alguém que abriu o portão e fugiu. Eu fiquei ali, sem ter o que fazer e desesperada por isso, a verdade é que eu não tinha idéia da real importância do Thor para meu irmão, ninguém tinha. Como era impossível conversar com ele, liguei para minha mãe mais tarde. Ela explicou que eles haviam procurado por todos os lados e espalhados os conhecidos cartazes. Eu aqui, longe, de mãos atadas, mesmo diante de minha fé que mais parece um anjo caído, pedi pra Buda, pra Deus, para São José, já que era o santo do dia, comi Zepolle – doce feito pelas padarias italianas, apenas 1 vez por ano, no dia de São José, e mentalizei.
Foram dois dias, até que às 07:20 da manhã o telefone tocou, e meu irmão disse: Tata, eu acordei com os latidos do Thor, ele voltou pra casa sozinho. O cachorro percorreu por volta de 5 quilômetros, isso calculados em linha reta, imaginamos que conseguiu pelo faro, mas sabe-lá-só -Deus- Buda- ou- Santo-São José como o Thor conseguiu voltar pra casa.
Desliguei o telefone, e a vida me pareceu mais bonita, o cachorro perambulou durante dois dias por lugares estranhos a ele, mas conseguiu voltar para casa, para os braços de seus donos. Amor é isso: a liberdade de poder estar em qualquer lugar, mas ter vontade de estar apenas em um lugar, ao lado de quem se ama.
Ah! O Pasv, se vocês forem ao restaurante durante a semana, verão pouquíssimas pessoas, a mesma garçonete que ali trabalha por mais de 15 anos, os simpáticos e sobreviventes proprietários, e o que restou do azulejo que denuncia a existência de antigas paredes. Paredes dos tempos áureos do Pasv, do tempo em que todas as mesas eram ocupadas, do tempo em que os pratos não eram recolhidos sem uso. Do tempo em que alguma coisa acontecia nos coracões quando se cruzava a Ipiranga e a avenida São João. Mas se forem ao Pasv em um domingo, poderão encontrar senhores de paletó e senhoras que cheiram a talco. Com sorte, verão um casal de namorados. Namorados há mais de 40 anos, e enquanto seu prato não vem, perceberão que eles poderiam ir para qualquer outro restaurante, mas não, eles vão ao Pasv.

terça-feira, 24 de março de 2009

Clau, pulando a cerca?

Você já parou para pensar por que as mulheres usam saias e os homens calças ? Ou por que as prostitutas estão sempre de sandalias de salto alto? Ficou interessado, né?...rs
Se você quer desvendar esse mistério, acesse: http://pulaomuro.blogspot.com/2009/03/consumo-e-status-olhar-antropologico.html E veja como a ciências sociais pode ser muito divertida...

Ah! Eu to pulando o muro!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ela desatinou...

Para Carola, para a mulher das muitas melodias, a dança da vida para além dos passos na avenida

Ela acordou com o despertador. Do sonho, restou a frase: "se você virar um caco, eu faço mosaico de você".
Como de costume, desligou o despertador, virou para o outro lado e dormiu por mais meia hora. Levantou. Foi arrastando-se até o chuveiro. Sentir a água cair por seu corpo era seu único prazer diário. Vestida de ombros encurvados e óculos escuros seguiu para o trabalho. Lá, ria da mesma piada repetitiva, esforçava-se somente o necessário e entupia-se de café. Mas não naquele dia. A frase a perseguia.

Á noite, não conseguiu dormir. Seu corpo exalava uma mudança que não compreendia. Foi em direção ao espelho, hesitou...Ela sabia que não veria apenas uma imagem, a sua, era bem mais do que isso. Na verdade, ela nunca quis enxergar o que sempre esteve diante de seus olhos. Com a voz fina, quase um arrepio, disse: "eu sou um caco".
Ligou o chuveiro, no primeiro toque d’água morna em seu corpo, fechou os olhos. Nua, caminhou até a sacada e se lançou ao nada. Seu corpo espatifou-se tão violentamente que voltou a levitar, antes que tocasse definitivamente o chão transformando-se em espelhos de vários tamanhos.

Era terça de carnaval e, no meio da bagunça, ninguém reparou na moça que se jogou do prédio. A Escola do bairro, que mais parecia um bloco, se aproximava. A porta- bandeira tremeu quando viu todos aqueles cacos espalhados pela rua, um escorregão, um erro. Seria fatal. O mestre sala segurou firme em sua mão e curvou-se. Ela arqueou o corpo, fixou seus olhos no infinito e rodou, brilhou, balançou a saia pra-lá-de-rodada. E, ao fim, com os olhos lacrimejados beijou a bandeira da Escola.
Há quem chorou, suspirou, parou e cantou mais forte o samba enredo.Todos sambaram sobres o cacos, muitos cortaram-se, mas o sangue quente impediu a dor.
Pedrinho esperou todos passarem e começou a pegar os poucos pedaços que sobraram do espelho. A moça amarga da janela da frente, que mais parecia um natureza morta, esbravejou: "Ô menino, o que você vai fazer com esses cacos?". Antes que Pedrinho explicasse, completou: "cerol, não é? Você não sabe que isso mata pessoas? Os motoqueiros vivem sendo degolados. Culpa de meninos como você, me dá isso já!!" Enquanto a moça foi em direção à porta, Pedrinho tratou de esconder um pedaço do espelho no bolso, resmungando explicou: "eu não vou machucar ninguém, não. Eu só empino na pracinha e o cerol é porque eu gosto de ver as pipas dos outros ou a minha mesmo, dependo da sorte, voar pelo mar que é o céu, feito barco de papel".
Mariana, esse era o nome da moça amarga, tomou das mãos do menino os cacos que restaram e ordenou: "pare com essa conversa mole e vá pra casa. É um absurdo criança ficar na rua até tão tarde ". Pedrinho fez cara de sério, mas logo saiu dando pulinhos de alegria.
Ao fechar a janela, Mariana, viu a Escola virar a esquina, no fim da rua. Olhou para o espelho, buscou no bolso da saia algo perdido, abriu o batom vermelho envelhecido e, com cuidado, pintou os lábios. Soltou os cabelos, desbotoou dois botões da camisa e saiu faceira atrás da escola. Um vento forte soprou e levantou a sua saia, sem que ela se desse conta.
O Gari, que varria a rua, sorriu malicioso e cantarolou o samba enredo:
“Ela desatinou, viu quarta-feira chegar
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando
Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando e ela inda está sambando..."

quarta-feira, 4 de março de 2009

Beleza e Resignação?


O Chico, dias desses, em uma bebedeira amorosa disse: “ existem coisas tão lindas, que eu prefiro não tocar”.
Isso me veio à cabeça, enquanto observava minha sobrinha brincar. Se eu a tocasse, ou chamasse sua atenção, interromperia não apenas o curso de sua brincadeira, mas toda a magia envolvida. Possivelmente, roubaria o sorriso do seu rosto.
Será que foi esse mesmo respeito pela beleza que fez o seu Cesário nunca ver uma ópera inteira em toda sua vida? Mesmo sendo umas das suas paixões. Ou ele preferia partir com elas inacabadas, partindo com elas, ao invés de vê-las finalizadas?
Será que é esse o respeito que devo ter por noites como àquela? Em que as certezas são tão simples como o encaixe das nossas mãos? É... por você, por mim, por Nós, apagarei o seu contato, mudarei de calçada quando te encontrar na rua e, se, por acaso, nossos olhos se cruzarem, te olharei como olho para todos os outros.
Covardia?
Não, coragem. Covardia seria te procurar. Coragem é não tocar em uma história tão linda.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

E lá vem nossa heroína em mais uma aventura

No último capítulo, ela “tomou” a pílula de nanincolina...
Como toda heroína que se preze, ela tem um ponto fraco, o sono, ou melhor, a ausência dele. Ela resolve paradigmas comendo queijo, mas não mexa no sono da nossa suuuuuuper-heroína. É uma relação de causa e efeito, toda vez que o sono da heroína é afetado, desastres acontecem.
23:00 - Por volta desse horário, ela encerra religiosamente suas atividades . Chega de metrô lotado, de conversas inúteis no MSN, de levar uma hora para dar um pastel para a filha da amiga, de ser paciente com a mãe, que não para de lhe dar conselhos para casar-se, ter filhos e ser feliz, não atende mais o celular, evitando assim amigas carentes e suas sempre perguntas sem fim que não levam a nada, chega de ajudar a amigas a mentir em currículos. Enfim, chega de atos heróicos.
00:30 - Ela se deita. A essa hora, começa o concerto, dos cachorros da vizinhança. Com um ligeiro sorriso de canto de boca abre seu criado mudo em busca da sua arma secreta. Ela não tem capa super sonica, não tem batmóvel, mas tem seu suuuuuper protetor aurícular . Artigo indispensável para a tranqüilidade do seu sono. Percebe, então, que não tem mais nenhum. Sente um arrepio, um presságio...
02:00 - No meio da noite acordou, rolava na cama e nada. Como era possível? Seu sono nunca lhe deixara na mão! Depois de eternos minutos, dormiu.
05:00 - Acordou com a mãe, que tivera que sair de casa muito cedo.
05:10 - O cachorro, que é muito apegado à sua mãe, começa a lamúria. O choro era de alguém que acabou de ver seu amor partir para nunca mais voltar. Incessante, sofrido e, principalmente, irritante!
07:00 – Desiste, levanta e vai tomar banho. Nada como um bom banho matinal para renovar as energias. Vai em direção ao quarto dos pais, que tem o melhor chuveiro da casa.
07:05 – Liga o chuveiro, a água está morna, resolve mudar para o quente. Percebe que existem diversas letrinhas sobre o chuveiro. É isso mesmo, nossa heroína tem uma pequena deficiência congênita, é míope. Opta pelo lado esquerdo, com força empurra o botão com ajuda do cabo do rodo. Só se ouve o estouro! Um curto circuito...
07:10 – Positiva, pega o rodo novamente, vai mudar para o lado certo dessa vez e ficará tudo bem... Mas o botão está emperrado, com sua suuuuuuuuper força empurra e bleffffffffiiiiiiiiiitttiiiiiiiiiiiii, arranca o chuveiro, com cano e tudo, da parede.
07:11 - O chuveiro permanece conectado a parede apenas por um fio elétrico.
07:15 - Paralisada, com olhos magnetizados, acompanha o balançar do chuveiro preso ao fio da rede elétrica, tal qual uma sessão de hipnose .
07:20 – Imóvel, nossa super lê, com muito esforço, as letrinhas: Fria, Morna, Quente, Muito Quente. Permanece ali, nua, com o cabo do rodo na mão, lembrando o quanto seu pai gostava de tomar banho naquele chuveiro, o melhor da casa.
07:22 – Depois da paralisia, recupera as forças e vai em direção ao outro banheiro. Pensa: tudo bem, banho, renovo minhas energias e sigo em frente... Liga o chuveiro, água fria, toca o interruptor para acender a luz, nada. O curto circuito foi na rede elétrica da casa...
07:25 – Pensa em banho à sueca, ou, de gato... mas desiste. Afinal, precisa renovar as energias...
07:30 – Vai à cozinha, respira fundo, banho de canequinha também renova energia. Coloca panela no fogo, mas não consegue ligá-lo, fogão elétrico.
07:32 - O vício a salva, encontra o isqueiro junto ao maço de cigarros.
07:40 - Nossa heroína lava o balde. Sim, ela tem super poderes, mas sua pele não está preparada para os produtos químicos terráqueos.
07:45 - Começa o banho de canequinha e se sente uma futurista, afinal, esse será o banho do futuro, devido a escassez de água.
08:20 - chega ao metrô, teme em segurar na barra devido à sua suuuper força, mas não é preciso, a super lotação impede que uma agulha caia no chão. Todos os espaços estão ocupados por corpos, bolsas, mochilas e afins.
09:20 - Chega ao trabalho , tropeça em uma moça atarantada no elevador que, irritada, explica que não consegue chegar ao quarto andar. Nossa heroína explica que ela terá que ir para o outro elevador. A mulher fixa seus olhos nervosos na heroína e diz “hoje ta difícil, sabe aquele dia que nada dá certo?”. A porta do elevador se fecha...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Love Station


Chego ofegante, mas perco o ônibus. Irrito-me. Minha agitação é neutralizada pela ansiedade da mulher à minha frente. Respiro Fundo. Sinto o cheiro do amor. O amor maduro é elegante e ansioso, a mulher desassossegada espera por alguém... me distraio. Quando vejo, a mulher caminha ao encontro do sossego.
Ele todo sorriso, conta histórias sobre filhos, escolhas e cafés. Lança seu longo braço sobre o corpo dela. A expressão de sua saudade é medida pela a força que emprega ao apertar carinhosamente o antebraço dela. Permanecem conversando, “quase abraçados”. Ela continua ansiosa, mas espera, até o momento que ele a abraça por completo, aí sim, ela se joga e oferece sua boca. O beijo cala o descompasso.
O amor da juventude tem cabelos sedutoramente desalinhados, e caminha em linha reta, vai e volta, vai e volta, vai volta, vai e volta... um vulto passa por mim. É ela correndo, não tenho tempo de vê-lo, ela se joga em seus braços e rouba um beijo.
Minha boca faminta engole seco. Enquanto minha história não chega, farejo à minha volta o amor alheio, que não alimenta, mas me mantém viva.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Nem tudo virou Musica

POUSO PACATO EM PLUTÃO
Raul Seixas


Estou perdido na varanda de mercúrio sem asas para perseguir o meu eco.
Estou dominado pela rainha Medusa, sentada na sua poltrona de veludo
verde com seus nove cães de prata ao lado.
Estou agora em labirinto de anis, onde mordomos gentis sorriem bemóis.
Me cumprimentam cordialmente, centauros errantes nos pastos lilazes do
lado de fora. Cavalgo em renas de rendas em desvairada velocidade para,
angustiado, alcançar seus cabelos de nylon que enfeitam a bandeira de sonhos.
E lá se vai eu.
Estou correndo no sangue de verdes veias duma idéia que brotou da fonte do
ano que passou.
Sento-me no amarelo. Estou chorando em hipérboles!
Estou perdido na varanda de mercúrio sem asas para perseguir o meu eco.
Estou no espaço cósmico. Na plasmobiose do universo que se agiganta e me
engole.
Estou há bilhões de anos-luz distante de mim mesmo.
Gente de cera lustrosa arrastam seus (corpos?) em direção à porta para o
nada.
Suco de clorofila borbulha em espumas verdosas em canecos de bronze,
onde anões bebem sem boca.
Agora onde estou não sei.
Nem nunca soube.
Estou no cume do arco-íris?
Na parte roxa daquele transferidor?
Sei lá. Nem m’importa.
Sentado, sozinho, sem medo de cair, às sete horas de cores e uma mistura,
eu POUSO PACATO EM PLUTÃO montado numa borboleta gigante, tranqüila,
quieta e colorida.
Pouso pacato em Plutão. Com um guarda-chuva e uma máquina de costura...
(daquelas Singer antigas de pedal, que vovó usava para gorrinhos pra mim).
E a chuva promete não deixar vestígios...

SEIXAS, Raul. As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor.; Rio de Janeiro:
Shogun Arte, 1992. Pág 51 e 52.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Inês é morta, beijem sua mão.

"Eis um depoimento da época: Dom Pedro mandou que fizessem para ela um mausoléu de pedra branca, inteira e sutilmente trabalhado, representando, sobre a tampa, sua cabeça coroada como se ela, Inês de Castro, houvesse sido rainha; e foi esse mausoléu que ele mandou colocar em Alcobaça [...]. O corpo viajou em um ótimo cortejo para a época, desses em que há grandes cavalos montados por grandes cavaleiros, damas e donzelas e muita gente do clero; e ao longo do caminho havia mais de mil homens com círios nas mãos, dispostos de maneira que seu corpo seguiu durante todo o caminho entre as velas acesas.
O rei Pedro I mandou esculpir sua história em detalhes no próprio túmulo. E quando ele morreu, em janeiro de 1367, seu corpo foi enterrado próximo da bem-amada. Os corpos não foram colocados lado a lado, como seria mais natural, mas um de frente para o outro, para que no dia da ressurreição pudessem se levantar e cair nos braços um do outro.
Os suntuosos túmulos de pedra branca dos trágicos amantes podem ser visitados no mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Sobre o de Pedro, está escrito que os dois permanecerão juntos até o fim do mundo...."


Amor morre? Não pra mim, amor é feito passarinho, não morre, migra.
Recentemente reencontrei um amor, foi como visitar um túmulo, estava tudo lá. A mesma árvore onde escrevemos nossos nomes, a mesma casa, o mesmo passeio de moto no fim de domingo, até o mesmo pôr- do- sol. Os mesmos corpos.
Mas ao contrário do que você pode pensar, eu não era Inês, eu era aquela vela acessa que lhe fazia reverência. Não tenho dúvida que, um dia, acordamos eu e o meu amor e permanecemos abraçados até hoje. Não é ficção científica, é sentir .
Acredito que cada um de nós, Pedros e Inês, vivemos em tempos distintos. A magia ou , se preferir, o amor, é o encontro desses tempos. O mistério, o tempo desse encontro é irregular – pra mais ou pra menos, não importa. O pacto se cumpriu. Estão dispersos no tempo e no espaço da eternidade o gosto dos nossos beijos, nossa transpiração, nossa falta de ar, a sonoridade do dilatar nosso coração, o teu cheiro e o meu. .. você e eu estamos pulverizados pelo mundo, quem sabe um beija- flor já se alimentou da doçura de seus lábios ou alguém já sentiu o perfume feito da junção de nossos corpos.
Assim, quando deparar-se com a Inês, não tema, chega de brincar de caça fantasma. Inês está viva, por isso, beije-a!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Volta

Depois de uma pausa produtiva e muito saudável, surge a notícia que os brothers voltaram...

Pelo menos pra uma aparição

Não sei se por coincidência ou influência, voltei a ouvir o Ventura...

Segue uma pitada dos caras



Pra confirmar:
Los Hermanos Volta no Show do Radiohead

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

15.01.09

Acordar já no chão já era hábito para ele. Assim seus sonhos eram mais baixos, mais rasos, sonhos médios talvez. Mas eram sonhos firmes.

O trânsito rotineiro também já não espantava ninguém. Aquela cidade parecia ser formada por milhões e milhões de milionários. Milionários não de dinheiro, mas sim de tempo de vida.

A grande maioria dos cidadãos não se importava em esbanjar horas e mais horas de suas vidas paradas em meio ao fluxo de automóveis e coletivos. Alguns diziam que aproveitam para refletir, sonhar e por que não, meditar talvez. Já outros se diziam gladiadores e encaravam seus automóveis como antigas bigas romanas em pleno coliseu lotado. Aquilo aflorava a testosterona que adormecia durante o dia em mesas, repartições e monitores de LCD.

Sim, existiam também os muquiranas, pois também não era raro ver motos e bicicletas passarem apressadas por entre automóveis, ávidos por mais vida, no afã de não gastar um segundo de seu tempo precioso à toa. Mas é uma análise complicada. Há os que pensavam que esses eram realmente jogadores compulsivos que apostavam todo o seu tempo de vida em apenas uma jogada nos corredores fatais das marginas, vinte e três e radiais daquela megalópole tresloucada.

O horizonte da cidade já mostrava aos que chegavam sua intenção. A camada de névoa que carregava sua atmosfera mesmo nos dias de Sol forte abrasador deixava claro à todos que ali era espaço de produção, de movimentação. Ficar parado era o maior dos pecados e ter pulmão fraco a pior das deficiências.

Esse era o cenário daquele que acordava já no chão. Ali era sua terra, e assim como funcionava a cidade funcionava seu corpo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Açafrão


Numa pequena livraria, em um sábado a tarde, na Rua Fradique Coutinho. Um visita despretensiosa me apresentou uma autora francesa, falecida em 1977. Nascida em Paris no ano 1903, Anaïs Nin tem um conhecimento sobre a sensualidade que muitas pessoas nos meados no século 21 se espantariam.


Pequenos Passáros: Contos Eróticos. Essse é o livro, e como o nome mesmo diz, nós trás diversos contos, que contam sentimentos, experiências e prazeres diversos, de pessoas diversas, sempre com o sexo, ou melhor, a sexualidade e a sensualidade no centro das histórias.


Em poucas horas consumi todo o livro. Horas de leitura agradabilissíma. De maneira aleatória, escolhi um dos contos, com certeza não dos melhores, mas sim dos menores, afinal teria o que o transcreve-lo por inteiro. rsrs.


Vale pelo conhecimento. Infelizmente não tive como pedir autorização para a falecida autora, porém não me inibi em compartilha-los com os frequentadores desse famigerado blog. Sendo assim segue. Aproveitem essa pitada de Anaïs Nin.






Açafrão

Fay nascera em Nova Orleans. Quando tinha dezesseis anos foi cortejada por um homem de quarenta, de quem sempre gostara por sua aristocracia e distinção. Fay era pobre. As visitas de Albert eram acontecimentos para a família dela. Por sua causa, a pobreza deles era rapidamente disfarçada. Albert vinha como uma espécie de liberdade, a falar de uma vida que Fay nunca conhecera, do outro lado da cidade.

Quando se casaram, Fay foi instalada como uma princesa na casa dele, que ficava escondida em meio a um imenso parque. Belas mulheres negras a serviam. Albert a tratava com extrema delicadeza.

Na primeira noite ele não a possuiu. Alegou que era uma prova de amor não forçar a esposa, e sim conquistá-la lentamente, até que estivesse preparada e disposta a ser possuída.

Ele foi até o quarto dela e limitou-se a acariciá-la. Deitaram-se, cercados pelo cortinado branco, como se estivessem dentro de um véu nupcial, a se acariciarem e se beijarem na noite quente. Fay sentiu-se fraca, parecia ter sido drogada. Cada novo beijo ia dando nascimento a uma outra mulher, ia expondo uma nova sensibilidade. Depois, quando ele a deixou, ficou se virando na cama, incapaz de dormir. Albert tinha acendido pequenas fogueiras sob sua pele, correntes elétricas que a conservavam desperta.

Ela foi intensamente atormentada desse modo por diversas noites. Sendo inexperiente, não tentou provocar a consumação do ato sexual. Limitava-se a ceder àquela profusão de beijos no seu cabelo, pescoço, ombros, braços, costas, pernas... Albert se deliciava beijando-a até que gemesse, certo de ter acordado uma verdade adormecida de sua carne, e então sua boca seguia em frente.

Assim, ele descobriu a trêmula sensibilidade de Fay debaixo dos braços, no ponto onde nasciam os seios, as vibrações que corriam entre os mamilos e seu sexo, assim como entre a boca do seu sexo e os lábios, todas as ligações misteriosas que estimulam e excitam outros lugares além daquele que está sendo beijado, correntes que vão da raiz do cabelo à base da espinha. Cada ponto que beijava ele louvava com palavras de adoração, observando as covinhas na extremidade de suas costas, a firmeza de suas nádegas, a curvatura pronunciada da sua coluna, que tanto arrebitava o traseiro de Fay, “como de uma negra”, dizia ele.

Albert passava os dedos à volta dos tornozelos de Fay, detinha-se nos seus pés, que eram perfeitos como as mãos, acariciava vezes sem conta o perfil de estátua do seu pescoço, perdia-se na sua cabeleira comprida e cheia.

Os olhos dela eram longos e estreitos como os de uma japonesa, sua boca, generosa, os lábios, sempre entreabertos. Seus seios arfavam quando Albert a beijava e marcava a linha dos seus ombros com os dentes. Mas, depois, quando Fay começava a gemer, ele a deixava, fechando o mosquiteiro branco cuidadosamente, protegendo-a como se fosse um tesouro, deixando-a com o líquido do amor escorrendo por entre as pernas.

Uma noite, como era comum, ela não conseguiu dormir. Deixou-se ficar sentada na cama, nua. Quando se levantou para procurar o quimono e as sandálias, uma gotinha de mel rolou do seu sexo e desceu pela perna, até ir marcar o tapete branco. Fay não conseguia entender o autocontrole de Albert, sua reserva. Como podia ele subjugar seu desejo e dormir depois de tantos beijos e carícias? Nem sequer tinha chegado a tirar completamente a roupa. Ainda não vira seu corpo.

Decidiu sair do quarto e andar um pouco até se acalmar de novo. Todo o seu corpo latejava. Desceu vagarosamente a larga escadaria e saiu para o jardim. O perfume das flores a deixou tonta. Os galhos das árvores caíam languidamente por cima dela, e o musgo que recobria os caminhos tornava seus passos absolutamente silenciosos. A impressão que tinha era a de que estava sonhando. Caminhou sem destino por longo tempo. De repente, um ruído a assustou. Era um gemido, um gemido ritmado como o de uma mulher se lamentando. A luz da lua que atravessava a ramaria das árvores expôs uma negra deitada sobre o musgo, com Albert por cima dela. Os gemidos da mulher eram de prazer. Albert a esmagava como um animal selvagem e se atirava, também ritmadamente, de encontro a ela. Ele, da mesma forma que sua parceira, deixava escapar gritos confusos e desconexos. Diante dos olhos de Fay, os dois se deixaram levar, convulsivamente, pelos violentos prazeres do êxtase.

Nenhum dos dois viu Fay, que se conservou em silêncio, paralisada pela dor. Depois de algum tempo correu de volta para casa, curvada ao peso da humildade de sua juventude, de sua inexperiência; torturavam-na inúmeras dúvidas a respeito de si própria. A culpa seria sua? Em que tinha falhado, o que tinha deixado de fazer para agradar a Albert? Por que ele tivera que deixá-la e fora procurar aquela negra? A cena selvagem não saia de seus olhos. Culpou-se por ter caído sob o encantamento de suas carícias e por, talvez, não ter agido como serio do desejo dele. Sua própria feminilidade a condenara.

Albert poderia ter-lhe ensinado. Ele dissera que estava conquistando aos poucos... esperando. Tudo o que tinha a fazer era sussurrar umas poucas palavras. Estava pronta a obedecer. Sabia que ele era mais velho e que ela era inocente. Tinha esperado ser ensinada.
Naquela noite, Fay se transformou em uma mulher, fazendo segredo de sua dor, disposta a salvar sua felicidade com Albert, a mostrar a sabedoria e refinamento. Quando ele se deitou ao seu lado, ela murmurou:

_ Eu gostaria que você tirasse a roupa.

Albert pareceu espantar-se, mas consentiu. Foi só então que ela viu seu corpo ainda jovem, esbelto, o cabelo muito branco e brilhante, uma curiosa mescla de juventude e idade. Ele começou a beijá-la. Ao mesmo tempo, com timidez, a mão dela moveu-se para seu corpo. A princípio estava assustada. Tocou no peito dele, depois em seus quadris. Albert continuou a beijá-la. Devagar a mão de Fay procurou seu pênis. Ele fez um movimento para se afastar. Estava mole. Albert começou a beijá-la entre as pernas, murmurando sem parar a mesma frase:

_ Você tem o corpo de um anjo. É impossível que um corpo desses tenha um sexo. Você tem um o corpo de um anjo.

De repente, Fay teve um assomo de raiva, raiva por ele ter afastado o pênis de sua mão. Sentou-se, o cabelo despenteado caindo-lhe nos ombros, e disse:

_ Eu não sou anjo, Albert. Sou uma mulher. Quero que você me ame como mulher.

Seguiu-se a noite mais triste da vida de Fay, por que Albert quis possuí-la e não conseguiu. Ele ensinou as mãos dela a acariciá-lo. Seu pênis endurecia, ele começava a colocá-lo entre suas pernas, mas logo amolecia de novo entre as mãos de Fay.

Albert permanecia em silêncio, tenso. Fay podia ver pela expressão do seu rosto o quanto estava atormentado. Tentou muitas vezes. Dizia:

_ Espere um pouco, um pouquinho só.

Dizia isso com humildade, delicadamente. Fay permaneceu ali deitada, pelo que pareceu toda uma noite, molhada, desejosa, ansiosa, enquanto tentava possuí-la e falhava, voltava e a beijava como que para compensá-la pelo sacrifício. Fay chorou.

Essa mesma cena se repetiu por duas ou três noites, após o que Albert não mais foi ao seu quarto.

E quase todos os dias Fay via sombras no jardim, sombras que se abraçavam. Tinha medo de sair do quarto. A casa era completamente acarpetada e silenciosa, e, uma vez, quando subia as escadas, surpreendeu Albert montado em uma das criadas negras, com as mãos por baixo de sua saia rodada.

Fay ficou obcecada com os gemidos que ouvia. Tinha a impressão de ouvi-los o tempo todo. Uma vez foi até o quarto das criadas, que ficava em uma outra casa menor, e prestou atenção. Ouviu os mesmos gemidos que tinha ouvido no jardim. Caiu no choro. Uma porta se abriu. Mas não foi Albert quem saiu de lá de dentro e sim um dos jardineiros, também negro, que encontrou Fay soluçando.

Albert acabou por possuí-la na mais insólita das circunstâncias. Iam dar uma festa para amigos espanhóis. Embora raramente fizesse compras, Fay foi até a cidade para comprar um tipo especial de açafrão para temperar o arroz, uma marca extraordinária que acabara de chegar em um navio que viera da Espanha. Foi agradável comprar aquele açafrão tão fresco. Fay sempre gostara de cheiros de docas, de armazéns. Quando os pequenos pacotes de açafrão lhe foram entregues, colocou-os numa bolsa que carregou de encontro ao seio, debaixo do braço. O cheiro era forte, embebeu-se em suas roupas, mãos, o corpo todo.

Quando chegou em casa, Albert estava à sua espera. Veio ao seu encontro no carro e puxou-a para fora, rindo, alegre. Ao fazê-lo, com ela ainda nos braços, ele percebeu.

_ Você esta cheirando a açafrão!

Fay percebeu um brilho curioso nos olhos de Albert, que comprimiu o rosto de encontro aos seus seios, cheirando-a. Depois a beijou. Seguiu-a até o quarto, onde ela atirou a bolsa em cima da cama. A bolsa abriu-se. O cheiro de açafrão encheu o quarto. Albert fez com que se deitasse, completamente vestida, e, sem beijos ou carícias, possuiu-a.

Quando terminou, ele disse, feliz da vida:

_Você está com cheiro de uma preta.

O encanto estava desfeito.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Férias Uma Pipoca

Não Senhor. Enquanto a ala feminina sai de férias eu me nego.

É verdade que a inspiração ainda não chegou, porém enquanto ela não floresce, vamos adubando um terreno com uma coisa sutil.

A Internet realmente parece que chegou para quebrar muitos paradigmas. Se você não sabe usar a Internet, pergunta para ela, ela te ensina.
Queria eu postar vídeos. Tentei de algumas maneiras, mas sem muito sucesso, quando me ocorreu jogar no google. "Como publicar vídeos no blogspot". A resposta veio em vídeo. Tente e verá. Muito simples. Pronto, deram um revolver na mão de macaco.
Andei lendo em alguns sites que a alguns anos já existem os WebBots. Pelo que entendi são supercomputadores que pesquisam em toda a Internet padrões de comportamento de toda a humanidade e fazem previsões sobre o futuro. Tipo um Nostradamus constituídos de bits. Dizem que previram a tsunami que arrasou a Ásia, o Furacão Katrina, e diversos ataques militares. Dentre as descobertas desses WebBots está o fim do mundo. Dizem que acabará em 2012, pra ser mais exato no dia 21 de Dezembro. Tem algumas teorias Maias que dizem isso também. Enfim, não vamos polemizar, enquanto o mundo não acaba, vamos ouvindo um som pra amenizar.
Trata-se do Little Joy, formado pelo Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, uma mina que não sei qual o nome, mas é estilosa pra caramba e aquele Baterista do Strokes que por acaso é Brasileiro, mas cujo qual tambem não me recordo o nome. Mas pra quem possa se interessar, é só jogar no Google, ele te dará a resposta. Afinal, já deu até a data do fim do mundo, o que seria o nome de uma banda.
É tanta coisa nesse mundo virtual que eu me pergunto. O que está fazendo aqui lendo essa viagem? rsrs
Enfim, Enjoy.




Ps. Não lembra Novos Baianos?

Férias

Queridos,

Voltarei a postar em fevereiro. Agradeço a todos os leitores e comentadores. São os comentários que iluminam o blog!

Lindo Ano Novo!!!

Ah! Tenho um pedido: adoraria conhecer os leitores silênciosos...rs

Que venha 2009