Para meu amigo imaginário, Edu
O vendedor de pipocas abandona seu posto: a porta da Igreja. O relógio-grande marca dez para meia-noite. A máquina do redeshop não completa a transação, o dono da antiga farmácia irritado com o aparelho mostra seu sotaque português. Na porta, uma moça loira – de uma cor de cabelo que só existe nas telenovelas– flerta com o atendente, sua boca vermelha espalha um cheiro de chiclete ping-pong, com a destreza de uma jogadora, cruza as pernas.
No ponto de ônibus uma senhora pede dinheiro para o café, informa que já tem uma parte, mas precisa interar. A garota que espera a carona lhe oferece um pedaço de ciabatta. Ao fundo, vindo de um boteco, escuto a voz ardida do garçom que faz questão de dizer que é gay , se é que boteco tem garçom.
Uma punk onisciente para em minha frente. Uma digna Deusa da Urbanidade com seu enorme moikano de raízes vermelhas, o rosto de um branco tão branco que não encontro humanidade nele, suas roupas rasgadas reluzem a vitória de alguém que parece ter saído de uma guerra, que sem ao menos ter lutado consagrou-se vencedora. Ela me olha como se questionasse “ a minha alma” . Eu me pergunto, será que o “corpo dela apodrece?". Linda!
A transação é feita, o atendente embaraçado desculpa-se pelo transtorno. Caminho, a garoa mais do fina me acompanha. Um bêbado me encara, abaixo os olhos e seguro firme meu resfenol. Ele balbucia: o que é a vida? Senão a própria vida.
Levanto a cabeça e vejo dezenas de quadrados coloridos – as janelas vestidas com suas cortinas. Tal qual um caleidoscópio em que atrás das cores se revelam vidas.
A senhora pede dinheiro para a jovem no ponto de ônibus, ela repete não ter e que está ali só esperando uma carona. "É, mas a sua carona tá demorando, né? Você não quer esse dinheirinho pra pegar o ônibus?" diz a senhora-pedinte.
Miro o horizonte, aprumo meu caleidoscópio e pisco. Afinal, as combinações são infinitas.
No ponto de ônibus uma senhora pede dinheiro para o café, informa que já tem uma parte, mas precisa interar. A garota que espera a carona lhe oferece um pedaço de ciabatta. Ao fundo, vindo de um boteco, escuto a voz ardida do garçom que faz questão de dizer que é gay , se é que boteco tem garçom.
Uma punk onisciente para em minha frente. Uma digna Deusa da Urbanidade com seu enorme moikano de raízes vermelhas, o rosto de um branco tão branco que não encontro humanidade nele, suas roupas rasgadas reluzem a vitória de alguém que parece ter saído de uma guerra, que sem ao menos ter lutado consagrou-se vencedora. Ela me olha como se questionasse “ a minha alma” . Eu me pergunto, será que o “corpo dela apodrece?". Linda!
A transação é feita, o atendente embaraçado desculpa-se pelo transtorno. Caminho, a garoa mais do fina me acompanha. Um bêbado me encara, abaixo os olhos e seguro firme meu resfenol. Ele balbucia: o que é a vida? Senão a própria vida.
Levanto a cabeça e vejo dezenas de quadrados coloridos – as janelas vestidas com suas cortinas. Tal qual um caleidoscópio em que atrás das cores se revelam vidas.
A senhora pede dinheiro para a jovem no ponto de ônibus, ela repete não ter e que está ali só esperando uma carona. "É, mas a sua carona tá demorando, né? Você não quer esse dinheirinho pra pegar o ônibus?" diz a senhora-pedinte.
Miro o horizonte, aprumo meu caleidoscópio e pisco. Afinal, as combinações são infinitas.