quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O homem que não podia beijar x O entregador de pães

Em uma mesma noite, duas amigas em pontos diferentes do país...
Laura caminha pela Augusta, pensa em ligar para os amigos, mas desiste, é dia de seguir só. Luiza recusa o previsível samba e decide por Blues e Jazz na Ilha da Fantasia – também conhecida como Floripa.
Tudo acontecia como Laura previa: cerveja, mulheres excessivamente charmosas e troca de olhares desconexos. Até que se percebeu observada por um exemplar mais enxuto do Poderoso Chefão, sabe aquele tipo: estou flertando com você, mas não assumo.
Luiza conversa amenidades com os amigos à mesa, quando vê entrar no pequeno bar um desenho, é isso mesmo, o desenho do seu menino. O menino que ao longo anos e com muito esmero desenhou em sua mente, acrescentando uma esquisitice aqui, uma calça xadrez ali, uma doçura acolá. Como se tudo não fosse perfeito, Arthur era amigo dos seus.
O show começa e por um magnetismo musical as pessoas avançam em direção ao palco. As mãos da Laura e do Poderoso Chefão se tocam brevemente, mas o suficiente para um quero mais. Sorrateiramente o Poderoso Chefão segura a mão dela, e como se não tivesse feito nada, acompanha o show indiferente.
O desenho não desviou do seu script, encanta-se por Luiza. Entre várias conversas, conta que faz pães e os entrega em uma bicicleta com um cesto na frente. Os amigos confirmam, tal qual os meninos dos filmes italianos do pós-guerra, Arthur é o garoto magricelo de boina azul que pedala sobre os paralelepípedos entregando suas baguetes.
João é o nome do Poderoso Chefão, ele a abraça. Laura praticamente some em sua jaqueta preta. Ele é doce e forte, embora não fisicamente. Ela não sabe mais se é um Poderoso Chefão, mas, enigmático como todos, sente que pode derreter ali, imersa. Laura teme ser hipnotizada se encará-lo. Feito gatos, alisam-se. Até o momento, que ser gato não basta, centímetros separam seus lábios. João: Não posso beijar. Laura tenta inutilmente controlar suas sobrancelhas, que se transformam em sobrancelhas-Coringas, e tem um acesso de riso.
Arthur saca um bombom do bolso, come-o demoradamente, sem oferecer à Luiza. Em seguida, dá um nó no centro do papel, se você conseguir desfazer o nó, te dou um beijo! Luiza, atrapalhada, puxa o papel da mão dele. Ela tenta, mas não consegue. Ele o toma e afrouxa o nó. Ela finalmente desenlaça. Mesmo sem óculos, consegue ler: Surreal, em letras douradas, é o nome do bombom. A timidez em Luiza é proporcional ao seu desejo. Arthur arremata: quero meu beijo no escuro! Levanta-se da mesa e caminha em direção à praia. Ela o segue, o barulho das ondas do mar confundi-se com as batidas de seu coração. Arthur tateia o rosto da moça até encontrar seus lábios, o beijo acontece.
Laura questiona: Porque não pode beijar? Ele desconversa e continua a cheirá- la, com a cobiça de quem cheira a panela vaporosa do almoço de domingo. Ela insiste. João com um meio sorriso, Vou lher fazer uma proposta irrecusável : se você for embora comigo eu te explico o por quê. Laura não consegue distinguir o que é maior: sua curiosidade ou a vontade de voltar para dentro daquela jaqueta. Laura encosta seu queixo no peito dele, sente uma estranha tranqüilidade, aceita.
Luiza chega em casa com o sol, deixando por todos os lados o rastro-areioso da sua noite. O suspiro fica pela metade, adormece.
O silêncio do João contrasta com a barulhenta Augusta. Ele sabatina Laura com perguntas, evitando à sua. Laura acha graça, pensa que ele está levando a sério a premissa do seu personagem: nunca deixe que as pessoas saibam o que você está pensando. Dispara: E a historia, João? Como num passe de mágica, ele a coloca em seu colo, caminha com ela, em seus braços, entre putas, bêbados e trailers de cachorro-quente. Seus olhos dizem coisas que Laura não saberia traduzir. Em frente ao prédio dela, minha história é uma mulher. Pressiona as mãos dela com carinho e diz ternamente um cuide-se, parte. Laura deixa escapar seus pensamentos: afinal, o homem que não se dedica a família, nunca será um homem de verdade. Volta-se para rua, procura seu Poderoso Chefão pela última vez. Não consegue. Ele é apenas mais um entre os outros homens.
Luiza acorda com um gosto doce na boca, não lamenta ter perdido toda a manhã e parte da tarde. Os latidos anunciam a chegada de alguém, abre a porta da varanda e vê Arthur, sorridente ele diz: Você é Real! Aponta para o horizonte e a convida para ver o Arco-Íris.

12 comentários:

Anônimo disse...

Clau!

Texto lindo, histórias fortes, mas um apena que os desenhos viram rabiscos...
Saudade querida!

Vanessa disse...

Ahhhh eu adoro essa história!!!!

Anônimo disse...

Clauzinha,

Vc pinta a realidade com aquarela e a transformava num sonho lindo e colirido, mas que não deixa de ser real!

Vc é linda!

Beijos

Maga

Mill disse...

sensacional hermana, que belo texto, que bela realiadidade, e mais uma vez sou obrigado a elogiar seu dom de ver a poesia no mundo real... isso é para poucos

Beijo hermana, amo-te

Ps.: Podia ser pior, ele poderia ser o Diogo Mainardi rsrsrsrsr

Anônimo disse...

kkkkkkkk...só vc mesmo né Clau....amei....saudades de você....

Anônimo disse...

Clau...

Muitas vezes na vida, encontramos um "Poderoso Chefão" que ao te colocar dentro da jaqueta preta, se transforma em uma pessoa meiga e amavel...

Amei a historia!!!!

Beijao

Fica com Deus!!!!

Johnny disse...

Oi Clau...
Fico pasmo ao ver como você consegue conduzir palavras a formarem textos tão mágicos que nos fazem viajar para dentro de sua narrativa.
Adorei!

Beijo Clau.

Anônimo disse...

Boa, Craudiana! Boa!

Que levada!

Anônimo disse...

Ai, Claudiana...pena que não se aprende a escrever de uma maneira tão bonita, tão poética assim...se isso fosse possível, pediria um curso a vc. Mas essas coisas algumas (poucas) pessoas nascem sabendo. Parabéns pelo texto, foi maravilhoso poder lê-lo. (Tá na hora de reunir vários desses em um livro...)
Bjs

Anônimo disse...

OlÁ!Demorei a sair do torpor...que história hein?Se vc já não me tiovesse contado pessoalmen6te nem acreditaria...que homem é esse que acende a chama e depois foge do calor?Se bem que sua narração é bem mais bonita que a realidade...quanta facilidade em enxergar por sonhos o que vc vive...parabéns!!!
Abço...linda!!!!!!!

Unknown disse...

Lindoo!!! =)

Unknown disse...

Clau Clau...
Adorei quando ouvio as duas histórias, mas confesso que no texto, e juntas, elas ficaram bem charmosas.
Um convite pra ver o arco-íris...ufa!!!! cadê?
Mas tbém tenho que confessar, que a história do Poderoso Chefão, contada numa noite de bar ouvindo samba, tbém foi bem divertida, pelas intervenções.
Adorei o texto linda...quando vai escrever sobre minhas histórias? tenho tantas né? rsrsrs
Será que tem poesia?
Drama tem...rs
Bjo