quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Teletransporte

Para os pequenos: Arthur, João, Laura e Luiza
Eu me teletransporto para outros “mundos”. A física quântica ainda não conseguiu a façanha, mas o contraste sócio- econômico sim. Não é preciso aparatos especiais, embora, às vezes, eu me alimento de comida de astronauta. Eu não embarco em um ônibus espacial, vou de metrô mesmo, ou melhor, de trem, até São Miguel Paulista. Mas só por hoje, não quero o preto no branco, quero brincar de amarelinha!
Lá em São Miguel não tem fumaça, mas tem um monte de Maria que entra no trem. Eu sento na janelinha e olho pro céu, o céu estrelado de pipas. O que para os meninos é guerra, pra mim é balé, toda vez que uma pipa é cortada, faço um pedido, viro pipa-cadente! Na estação, afundado na cadeira, o gordo velhinho português alisa cal-ma-men-te seu bigode com um pentinho de bolso. Perco-me pelas ruas, que parecem labirintos de tão tortas, a molecada aproveita e brinca de pica-esconde enquanto a vizinha pede o açúcar e o cheiro de churrasco dos carrinhos nas esquinas deixa tudo com sabor de domingo; o rosto cansado sorri pra mim; o rádio de pilha, xia, xia, mas o sambinha cadência a “pelada” de rua, diz o refrão: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”
É, Outro dia resolvi mudar o itinerário, nem precisei ir longe, peguei um ônibus e desci na Oscar Freire. Lá não tem criança descalça jogando bola, aliás, não vi nenhuma rabiola presa no fio da rede elétrica pra contar histórias, porque afinal, nem rede elétrica tem pra brincar com a memória... Em compensação, Audrey Hepburn (s) e Jack (s), versão Onassis, passaram por mim, com seus óculos grandes , roupas pretas e roxas. Uma coisa que me impressionou foi a quantidade de “cheiros”, cada loja tem o seu, o que faz com que a rua seja um verdadeiro mosaico de fragrâncias ao ar livre. Lá na Oscar-Freire até as sapatilhas têm cheiro, de chiclete de tutti frutti, aaaaa mas são tão bonitas, Melissinhas de todas as cores e brilhos. Uma delas, inclusive, fica em uma redoma de vidro que gira no centro da loja. Eu venho de um mundo em que só as coroas das rainhas ficam em redomas de vidro, mas aí pensei, será que se eu colocar essa sapatilha deixo de ser gata- borralheira? Eu ouvi, juro, bem ao longe uma canção, quase um sussurro, dizia assim: “Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia. Quem brincava de princesa acostumou na fantasia”
Qualquer dia desses vou para uma tal de Vila Madalena, quem quiser ir comigo é só falar, ouvi dizer que é a terra da boemia, diz a lenda que vivem por lá: O bêbado e a equilibrista!
Mas o que eu queria mesmo é que os “mundos” não fossem assim tãoooo distantes, podia ter pipa cheirosa...

10 comentários:

Anônimo disse...

Opa, quero meu pirulito!
hahahahahaaha
Não se esqueça de me chamar qdo for se teletransportar para a Vila Madalena!
Beijos

Mill disse...

Complicado, diversos mundos nos seduzem, com diversos apelos... Uns pela naturalidade, outros pelo requinte, outros pela bebedeira e pela farra, engraçado que onde o requinte se sobrepõe as pessoas ficam para trás e os objetos se colocam a frente....

Madames passam, mas não olhamos seus rostos, seus olhos, somente seu chapéus...

É o que parece em análise rapida que o belo texto me permitiu ter....

Onde faltam recursos sobram pessoas... E olha, sorte de minha hermana conseguir ouvir Chico Buarque em São Miguel e nos Jardins... Pois o que mais se ouve nessa cidade é o tal do créu....

Nunca houve nada parecido rsrsr beijo hermana querida

Espero o convite para a Vila Mada

Anônimo disse...

E quem falou que os mundos são assim tão distantes? Você consegue se teleportar de um para outro com um simples "bilhete único"... Eu gostaria é que não existissem "mundos", mas apenas um onde as disparidades sociais se teleportassem para o nosso imaginário. Seria um mundo onde as guerras no ar se resumissem apenas às pipas das crianças. Me teleporto para esse mundo sempre que posso, mas lá me sinto um pouco triste e solitário. Preciso aprender agora a teleportar o mundo para a realidade...

Unknown disse...

ahhhh meu pirulito do chaves vai ter que vir de nave espacial até a ilha perdida... onde eu brinco de ser sininho... Tb quero ir de teletransporte para boemia paulistana que tanto sufoca meu peito de saudade!

Vanessa disse...

Ahhh este texto lindo me teletransportou para outro mundo: o de Heliópolis, com crianças correndo por todos os lados, as donas de casa lavando roupa e fofocando sobre a menina grávida com a vizinha, os cachorros latindo e correndo atrás da bola fujona, adolescentes lavando os carros ao som de "Negro Drama" e meus amigos comendo coxinha e tomando suco de amarelo no barzinho dos cinquenta centavos...

Anônimo disse...

Reserve 3 pirulitos para nos. Mais uma vez um texto maravilhoso. Eh fantastico ver o mundo atraves de seus textos. Estou aguardando para ver a Vila Madalena agora.
Um grande beijo e abraco.
Obrigado especial do Joao.

Augusto, Lucia e Joao

Anônimo disse...

Nóssa !!!!!!!!!!
Quanta coisa, li tudo de uma vez e as sensações são tão vivas, intensas por um instante fiz uma conexão mirabólica com a física na eletricidade e eletromagnetismo que loucura tata! .
Tenho certeza que a Lu vai adorar tudo isso, já é uma leitorinha.
Muitissimo bom como sempre né?
Não poderia ser diferente.

Unknown disse...

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz.

E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país.....

ohhh garotinha pra responder à altura da sua sensibilidade só com o Chico.....
e eu gosto som do que vc escreve porque bibababiii..(rsrs)

Nancy F. disse...

Eeeeba!! Pirulito! Adoro pirulito!
hehehe

Quando for dar seus telepasseios pela Vila Madalena me chama... nem que seja para andar pelas calçadas, ou melhor pelas ruas, olhando as mesas ocupando as calçadas, as gentes, os carros....

Saudades de vc!
Bjs

Thais e Thiago disse...

Nossa Clau, nunca li coisa assim!
Fantástico!

Bjs da Cattu