quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Açucar


Açucar no meio da avenida

Qual motivo?


Não sei bem... Mas tento arrumar um bom motivo pra adoçar meu dia, minha noite....


Amigos e uma porção... Me vê o saleiro....


O doce é enjoativo.... prefiro o sal e a hipertensão, prefiro a pimenta e a gastrite, prefiro a metrópole com seus carros, com suas pessoas....


Pelo menos hoje...


"O caminhão bi-trem carregado com 37 toneladas de açúcar tombou por volta de 1h30".
Fonte: G1 & Folha On Line



Play Game

Nos meus sonhos (?)
Sou a mulher com vestido vermelho
que segura uma ficha na mão.
A Juke Box pisca pra mim,
mas qual é a música perfeita?
cada Um é uma música,
mas eu quero escolher A música.
A porta entreaberta é um imã para meus olhos....
persigo A música em minha mente
e brinco com meu corpo:
Quente. Frio.
O vento frio que vem da porta,
contrasta
com meu corpo quente.
Quente. Frio. Quente. Frio. Quente.
Meu destino é um homem de costas para mim na porta.
Não importa!
Mergulho minha mão no meu bolso abarrotado.
O tilintar dá o tom.
Vou apostar todas as fichas...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A Carta




Hoje.... que o amanhã seja diferente...

Que a luta pela vida alheia venha depois de sabermos por que queremos nossa própria vida... Não por egoísmo, mas por sinceridade, só assim nossa luta será honesta...

Me parece até com um pouco de covardia, de culpa demais, não auto delegar o direito de ser feliz... Não é pecado moral, ou algo que o valha reconhecer o Sol, as nuvens, os dias de frio, os campos, os oceanos, as crianças nos quintais, os casais na praça... O amor ainda pode ser de graça e para todos... A comida infelizmente é falta para muitos... Mas o amor, o reconhecimento, o porquê, isso é para raros...

O amor solitário, o amor pela paz de um cigarro no final do dia de trabalho, pelo deitar cansado, mas cansado de tanto amar a vida, para que a nossa luta continue, sempre, seja qual for o caminho que resolvemos traçar....

Que amemos nossa própria frustração, para que ela alimente o próximo êxito, nos de força para nossa próxima batalha... E que nós acreditemos nas mudanças que façamos por menores que elas sejam...

Não é fácil, mas acho que vale a pena, sou covarde demais pra desistir.... E nada de maniqueísmo, não somos unânimes em nossas verdades.

Cláudio
Sem data
Crédito Foto
http://voupracasamasnaoja.blogspot.com/

sábado, 25 de outubro de 2008

Nacos de Nuvem - Maiakóvski


No céu flutuavam trapos
de nuvem - quatro farrapos:

do primeiro ao terceiro - gente;
o quarto - um camelo errante.

A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu, pé-ante-
pé, se desgarra um elefante.

Um sexto salta - parece.
Susto: o grupo desaparece.

E em seu rastro agora se estafa
o sol - amarela girafa.

1917-18

Maiakóvski
(Tradução de Augusto dos Campos)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Segunda - Feira



Meus olhos mareados indicam uma tentativa de controle. Não há controle. A lágrima cai, ela nunca está no singular, é sempre plural.
Mesmo que eu feche meus olhos, ele continua lá: o menininho desapontado, sentado na casinha do cachorro, olha à sua casa, seu barraco. O cenário não está pintado em preto e branco, é colorido demais e vivo demais para esquecer.
Sua hesitação dói mais que um não. Não há movimento no hesitar. É mar sem vento.
Eu não tenho jardim e nem sementes para plantar. Não sei se um dia terei filha, para dar plantinha e bilhete com letra tremida, como fez a minha.
Eu quero me diluir nessas lágrimas, e virar mar, só pra ajeitar seus cabelos com as minhas ondas.

E tudo isso por quê?
Eu só queria colo, em um domingo qualquer, para ter coragem de seguir.
Nas minhas segundas-feiras.


Ps: Trilha da Segunda- feira http://br.youtube.com/watch?v=26g1jQG-n4Y

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O homem que não podia beijar x O entregador de pães

Em uma mesma noite, duas amigas em pontos diferentes do país...
Laura caminha pela Augusta, pensa em ligar para os amigos, mas desiste, é dia de seguir só. Luiza recusa o previsível samba e decide por Blues e Jazz na Ilha da Fantasia – também conhecida como Floripa.
Tudo acontecia como Laura previa: cerveja, mulheres excessivamente charmosas e troca de olhares desconexos. Até que se percebeu observada por um exemplar mais enxuto do Poderoso Chefão, sabe aquele tipo: estou flertando com você, mas não assumo.
Luiza conversa amenidades com os amigos à mesa, quando vê entrar no pequeno bar um desenho, é isso mesmo, o desenho do seu menino. O menino que ao longo anos e com muito esmero desenhou em sua mente, acrescentando uma esquisitice aqui, uma calça xadrez ali, uma doçura acolá. Como se tudo não fosse perfeito, Arthur era amigo dos seus.
O show começa e por um magnetismo musical as pessoas avançam em direção ao palco. As mãos da Laura e do Poderoso Chefão se tocam brevemente, mas o suficiente para um quero mais. Sorrateiramente o Poderoso Chefão segura a mão dela, e como se não tivesse feito nada, acompanha o show indiferente.
O desenho não desviou do seu script, encanta-se por Luiza. Entre várias conversas, conta que faz pães e os entrega em uma bicicleta com um cesto na frente. Os amigos confirmam, tal qual os meninos dos filmes italianos do pós-guerra, Arthur é o garoto magricelo de boina azul que pedala sobre os paralelepípedos entregando suas baguetes.
João é o nome do Poderoso Chefão, ele a abraça. Laura praticamente some em sua jaqueta preta. Ele é doce e forte, embora não fisicamente. Ela não sabe mais se é um Poderoso Chefão, mas, enigmático como todos, sente que pode derreter ali, imersa. Laura teme ser hipnotizada se encará-lo. Feito gatos, alisam-se. Até o momento, que ser gato não basta, centímetros separam seus lábios. João: Não posso beijar. Laura tenta inutilmente controlar suas sobrancelhas, que se transformam em sobrancelhas-Coringas, e tem um acesso de riso.
Arthur saca um bombom do bolso, come-o demoradamente, sem oferecer à Luiza. Em seguida, dá um nó no centro do papel, se você conseguir desfazer o nó, te dou um beijo! Luiza, atrapalhada, puxa o papel da mão dele. Ela tenta, mas não consegue. Ele o toma e afrouxa o nó. Ela finalmente desenlaça. Mesmo sem óculos, consegue ler: Surreal, em letras douradas, é o nome do bombom. A timidez em Luiza é proporcional ao seu desejo. Arthur arremata: quero meu beijo no escuro! Levanta-se da mesa e caminha em direção à praia. Ela o segue, o barulho das ondas do mar confundi-se com as batidas de seu coração. Arthur tateia o rosto da moça até encontrar seus lábios, o beijo acontece.
Laura questiona: Porque não pode beijar? Ele desconversa e continua a cheirá- la, com a cobiça de quem cheira a panela vaporosa do almoço de domingo. Ela insiste. João com um meio sorriso, Vou lher fazer uma proposta irrecusável : se você for embora comigo eu te explico o por quê. Laura não consegue distinguir o que é maior: sua curiosidade ou a vontade de voltar para dentro daquela jaqueta. Laura encosta seu queixo no peito dele, sente uma estranha tranqüilidade, aceita.
Luiza chega em casa com o sol, deixando por todos os lados o rastro-areioso da sua noite. O suspiro fica pela metade, adormece.
O silêncio do João contrasta com a barulhenta Augusta. Ele sabatina Laura com perguntas, evitando à sua. Laura acha graça, pensa que ele está levando a sério a premissa do seu personagem: nunca deixe que as pessoas saibam o que você está pensando. Dispara: E a historia, João? Como num passe de mágica, ele a coloca em seu colo, caminha com ela, em seus braços, entre putas, bêbados e trailers de cachorro-quente. Seus olhos dizem coisas que Laura não saberia traduzir. Em frente ao prédio dela, minha história é uma mulher. Pressiona as mãos dela com carinho e diz ternamente um cuide-se, parte. Laura deixa escapar seus pensamentos: afinal, o homem que não se dedica a família, nunca será um homem de verdade. Volta-se para rua, procura seu Poderoso Chefão pela última vez. Não consegue. Ele é apenas mais um entre os outros homens.
Luiza acorda com um gosto doce na boca, não lamenta ter perdido toda a manhã e parte da tarde. Os latidos anunciam a chegada de alguém, abre a porta da varanda e vê Arthur, sorridente ele diz: Você é Real! Aponta para o horizonte e a convida para ver o Arco-Íris.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Perder Confidenciado Por Bel, uma linda colaboradora

Na perda não há escolha.
Há apenas o imprevisto, sem explicações.
Na perda não há retorno.
Há apenas a passagem do presente
que se torna passado, num instante.
Na perda não há compaixão.
Ela traz a sensação de abandono,
o chão que se afasta dos pés,
o caminho interrompido.
Ela declara sua nudez, publicamente.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Teletransporte

Para os pequenos: Arthur, João, Laura e Luiza
Eu me teletransporto para outros “mundos”. A física quântica ainda não conseguiu a façanha, mas o contraste sócio- econômico sim. Não é preciso aparatos especiais, embora, às vezes, eu me alimento de comida de astronauta. Eu não embarco em um ônibus espacial, vou de metrô mesmo, ou melhor, de trem, até São Miguel Paulista. Mas só por hoje, não quero o preto no branco, quero brincar de amarelinha!
Lá em São Miguel não tem fumaça, mas tem um monte de Maria que entra no trem. Eu sento na janelinha e olho pro céu, o céu estrelado de pipas. O que para os meninos é guerra, pra mim é balé, toda vez que uma pipa é cortada, faço um pedido, viro pipa-cadente! Na estação, afundado na cadeira, o gordo velhinho português alisa cal-ma-men-te seu bigode com um pentinho de bolso. Perco-me pelas ruas, que parecem labirintos de tão tortas, a molecada aproveita e brinca de pica-esconde enquanto a vizinha pede o açúcar e o cheiro de churrasco dos carrinhos nas esquinas deixa tudo com sabor de domingo; o rosto cansado sorri pra mim; o rádio de pilha, xia, xia, mas o sambinha cadência a “pelada” de rua, diz o refrão: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”
É, Outro dia resolvi mudar o itinerário, nem precisei ir longe, peguei um ônibus e desci na Oscar Freire. Lá não tem criança descalça jogando bola, aliás, não vi nenhuma rabiola presa no fio da rede elétrica pra contar histórias, porque afinal, nem rede elétrica tem pra brincar com a memória... Em compensação, Audrey Hepburn (s) e Jack (s), versão Onassis, passaram por mim, com seus óculos grandes , roupas pretas e roxas. Uma coisa que me impressionou foi a quantidade de “cheiros”, cada loja tem o seu, o que faz com que a rua seja um verdadeiro mosaico de fragrâncias ao ar livre. Lá na Oscar-Freire até as sapatilhas têm cheiro, de chiclete de tutti frutti, aaaaa mas são tão bonitas, Melissinhas de todas as cores e brilhos. Uma delas, inclusive, fica em uma redoma de vidro que gira no centro da loja. Eu venho de um mundo em que só as coroas das rainhas ficam em redomas de vidro, mas aí pensei, será que se eu colocar essa sapatilha deixo de ser gata- borralheira? Eu ouvi, juro, bem ao longe uma canção, quase um sussurro, dizia assim: “Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia. Quem brincava de princesa acostumou na fantasia”
Qualquer dia desses vou para uma tal de Vila Madalena, quem quiser ir comigo é só falar, ouvi dizer que é a terra da boemia, diz a lenda que vivem por lá: O bêbado e a equilibrista!
Mas o que eu queria mesmo é que os “mundos” não fossem assim tãoooo distantes, podia ter pipa cheirosa...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Por aí



Já que o blog está parecendo um mosaico fotográfico, é bem verdade que um mosaico irregular e bem amador, visto que a "fotógrafa" que vos escreve não ajuda muito. Resolvemos inaugurar a série Por Aí. Assim como os textos, a série está aberta aos colaboradores.

A moça



De tempos em tempos te miro, seus olhos me inquietam. Sempre me inquietaram. Desde a primeira vez que a vi: atrás de uma cortiça, na 2º semana da família vende- tudo, na casa da Mari. Ela ficou surpresa quando disse que iria levá-la.
Voltamos, você, o sábado cinzento e eu, ouvindo Across the Universe. Seu olhar longínquo parecia querer me dizer algo. Demorei a perceber uma tristeza contida neles. Porque está triste moça?
Um amor incurável?
Um passarinho morto em seu caminho?
O sino da solidão que bate-bate...
Volto pra cama
Não Sonho – só respiro
Acordo, trabalho – transpiro
Volto – suspiro, suspiro por um barulho, um afago, uma luz acessa...
Coloco a chave na porta e escuto o alarde cinematográfico do virar de chaves no miolo, seguido do trinco que se esconde. Há um só tempo, sou prisioneira e carcereira de mim mesma. Abro a porta, tudo escuro no silêncio. Solto a maçaneta e levanto minha mão em direção ao interruptor - o gesto também é um aceno de adeus as minhas vidas possíveis. Minha mão encontra o destino, tudo fica claro: Vejo- te e me encontro em seus olhos.
Ps: Infelizmente não conseguimos uma imagem melhor, em parte, deve-se a condição da moça: que vive atrás de um vidro.