quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Muito mais que um anel....

Aos noivos, Patrícia e Fábio
Eu sempre adorei as cenas dramáticas em que as mocinhas arrancam seus anéis ou alianças dos dedos e os lançam na sarjeta. A cena é inseparavelmente acompanhada por choro, e por vezes, chuva. As tragicômicas também me agradam, quando o anel insiste em não sair do dedo, evidenciando a passagem do tempo, e mostrando que os corpos já não são mais esbeltos como antes. Ah! As cômicas, o clássico cafajeste que retira sua aliança do dedo e, em seguida, flerta com a moça ao seu lado.
Mas o que realmente me motivou a escrever esse texto foi a declaração, via MSN, de um amigo: “eu tentei fazer tudo certo, até anel eu comprei!”. Pausa. Uma contextualização se faz necessária: Não, ele não é um Clark Kent, sabe aquele tipo: óculos sem aro, camisa social por dentro da calça, enfim, o bom moço. Sim, ele é da turma dos sujinhos - carismáticos, dos que escrevem muito bem, comem bolovos na Mooca e dos que o último porre, que temos notícia, não foi na adolescência, mas sim no domingo passado mesmo. Assim foi: Levou a minha irmã na joalheria, parcelou o bendito e enviou com flores vermelhas, claro, no dia dos namorados. Acabou, no dia de finados, com a última parcela do cartão e na solidão.
Ficamos, ele e eu, tentando entender por que cargas d’água ele quis dar um anel à moça? Por que as pessoas dão anéis??
Ele cogitou posse, mas terminou com a busca por se eternizar no outro. Eu comecei a montar meu costumeiro quebra-cabeça. Lembrei que, uma vez, meu tio querido encasquetou que deveria me dar uma jóia. Eu: não tio, essas coisas são caras. Ele: nada, Clau. Com a maior cara de pau eu disse: ah é... Então, me dá em dinheiro que eu vou viajar.
Comecei a achar que meu amigo tinha razão, mas era cedo para conclusões. Procurei no meu baú de memórias e lembrei-me de uma história:
Um dia, na casa da mãe de amigo, um anel me chamou atenção. Quase submerso no dedo de uma senhora. Era um anel de Camafeu. Eles sempre me impressionaram, talvez por influência dos contos de fadas. Elogiei o anel. A senhora me responde com um sorriso sonoro, comprimindo-o levemente com a mão esquerda, e disse: "Esse anel tem mais de 50 anos”... “Quando eu me formei, no que hoje é o ginásio, minha mãe quis me dar um presente, porém, não podia. Então, me deu o anel de seu noivado”.
Naquele dia, não consegui deixar de pensar que, por mais de 50 anos, aquela que foi uma menina e, hoje, é uma senhora, carregou consigo uma prova de amor de sua mãe. Que por sua vez, foi símbolo do elo entre seus pais.
Ah! Mas não sei. Afinal, capitalismo, selva de pedra. A visão de um anelzinho resolvendo muitos problemas diários me tenta, mas, e se eu o ganhasse do meu menino? O tal, que dizem que existe, e que eu estou aqui esperando para merecer.
É amigo, você fez tudo certo. Eu que fiz errado, não importa o quanto eu tenha fotografado, nunca poderei dar a minha viagem à minha sobrinha. Nunca me eternizarei em jóia.
Sempre fui avessa às cerimônias, alianças ou anéis, mas aprendi que um anel pode ser muito mais que um anel. Tenho que continuar de olhos bem abertos para conseguir aprender os sentidos e que, por mais que sejamos descrentes, mesmo sem fadas, temos contos!


** Contos de todas as cores, Pati e Tato. Amor, madrinha.

10 comentários:

Anônimo disse...

Interessante esse texto...eu também, desde que acho que sei alguma coisa nessa vida, tive aversão a cerimônias e "regras" dos anéis (cor dourada na mão direita: noivado; cor prateada na mão direita: namoro; cor dourada na mão esquerda: casamento...blá, blá, blá). Pois bem, eu que sempre rejeitei essas normas estúpidas da sociedade, me vi emocionado no casamento da minha irmã. Não, continuo pensando as mesmas coisas sobre casamento em igreja e "afins", mas também acredito agora que um anel/aliança pode sim representar uma prova de afeto, e não apenas uma maneira de fazer a economia girar, assim como uma cerimônia religiosa talvez possa ser algo além de uma formalidade pra receber as "bençãos" de Deus.

Anônimo disse...

Oi Clau, que lindo!!! Parabéns!! Vc.já pode escrever um livro, ficou bom mesmo!!!

Bjos Patty

Anônimo disse...

Clauzitaaa, adorei esse texto!
Eu sempre achei q um anel não queria dizer muita coisa, mas confesso que sempre sonhei em ganhar um de um menino rsrsrsrs
Não por esse status de posse ou de alguém que é compromissado, mas pelo simples gesto de carinho e de lembrança.... Por estar entrelaçado nos membros que estão ali sendo vistos por nós a todo momento!
Beijos, querida!!!

Unknown disse...

Um anel...o que é um anel? o que pode ser um anel? Qual o significado que um anel pode ter? Amor ou posse? Espontâneo ou formalidade? Isso ou aquilo???
Acho que um anel pode ser o que quisermos; aliás anéis, cerimonias (como bem nos lembrou Fadulzitos) podem ser o que quisermos, podemos significa-los de acordo com nossas vontades e nossos sonhos.

Mill disse...

Esse lance de simbolos, cerimônias, aniversários, parábens, elogios, marcas sociais...

Tudo me deixa às vezes um pouco confuso, pois tambem os temo, tambem tenho minhas reservas...

A minha mulher, o meu casamento, o meu aniversário, o meu pátua, a minha aliança, as minhas contas, as minhas cervejas, as minhas lembranças....

Tudo terminara no meu enterro e continuará, no café no cemitério, sem minha presença, dai, pela lógica, nada mais será meu....

Acabou a festa, acabou os elogios, acabaram-se os beijos e orgarmos, os porres e loucuras, as boas ações e as ajudas, os conselhos....

E aquele belo comentário, de um texto lindo que escreveste, tudo ficará na memórias, e quem sabe, seja lembrado por outros que tambem um dia irão e serão só lembranças...

Johnny disse...

karaka Clau.
Adorei mesmo.
Tenho nesse exato momento meus olhos cheios de lágrimas. claro que foi por um sisco, mas tudo bem.
rs..
Costumo pensar que nunca conseguimos mensurar o impacto de nossas atitudes e agora me fez pensar melhor: Não podemos mensurar absolutamente nada. Nunca faremos a coisa certa, pois o certo não existe. Quero pelo menos fazer o intenso, pois o intenso é eterno, mesmo que seja errado.

Beijos Clau.

Não sei o que é certo nem o que é errado. Mas uma coisa eu te garanto: Estou certo que amo você (um pouquinho só..rsrs)

Vanessa disse...

Clauuuuuu,

Adorei seu texto!!!
Lembro-me do meu primeiro namorado que queria me dar uma aliança ou anelzinho, e eu dizia que nao queria porque nao tinha dono.
O que pra ele significava prova de amor, para mim significava prova de posse.
Credo, como eu fui ríspida né? (vou ligar e pedir desculpas)
No final das contas ele me deu um colarzinho e comprou outro igual para ele, como "símbolo de nossa relação".
Hoje ele está guardado numa caixinha e toda vez que eu vejo lembro com carinho de bons momentos.
Independente de objetos, o que importa é o "açúcar e o afeto".

beijos

Anônimo disse...

Belíssimo texto. E obrigado pelos adjetivos, Crau. (rá, rá, rá). Sobrou nada, ou quase nada. Mas o anel ainda está lá, nem que largado no meio-fio.
P.S - E que história é essa de "vão-se os anéis e ficam os dedos"? Já vi vários anéis da época pré-Dercy em museus. E os dedos? E..? Ah, já falei demais.

Anônimo disse...

Uma vez cheguei a pensar que um 'anel' significava muita coisa pra mim, hj, depois de passar por alguns momentos em que um 'anel' foi envolvido, acabo acreditando que prefiro uma 'aliança', mas ALIANÇA entre dois corações, sejam eles de homens x mulheres, irmãos x irmãs, pais x filhos, amigos x amigas, o que realmente me importa, é o sentimento verdadeiro que existe entre as pessoas...

Anônimo disse...

Clau, começa a ficar de olho em projetos de contos e crônicas para novos escritores. O SESC abre inscrições todo ano. Fica de olho!