terça-feira, 14 de abril de 2009

TROCA DE PASSE

Por Júlio Canuto*
Esta era para ser uma crônica sobre futebol, mas como em São Paulo sempre sofremos com contratempos – que nunca estamos preparados -, é mais do que isso. Esta é uma crônica sobre o dia a dia do paulistano, que tem como um de seus principais momentos de escape, o futebol, onde extravasa seus sentimentos.

Preliminar:
Quinta-feira, 09 de abril de 2009. O São Paulo F.C. vai jogar contra o Defensor Sporting, do Uruguai, pela Copa Libertadores da América. Como todo são-paulino, espero ansioso, pois esta é a competição que mais gostamos, uma das que mais ganhamos e o sonho de todo grande time. Hoje em especial, pois ganhei dois ingressos para o jogo, numerados, no conforto.

18:00 hrs, chamo o Messias, torcedor são-paulino que trabalha comigo e tem certa semelhança com o mascote tricolor e saímos rumo ao Morumbi. Da Vila Mariana até o Morumbi é rápido, de carro com trânsito livre dá meia hora. O jogo é as 19:15hrs.

Saímos. Ligo o rádio do carro para entrar no clima. Já estão falando sobre o jogo. O São Paulo entrará com força máxima, brigando pela classificação e para manter a liderança do grupo. Já o Defensor entra um pouco modificado, 3 alterações em relação ao último confronto, no Uruguai. Sinto cheiro de goleada. A noite é quente, a lua é cheia, amanhã é feriado. Tudo propício para uma ótima noite.
Mas...

Mas estamos em São Paulo, e estes fatores têm também seu lado ruim. Primeiro: 18:00hrs = horário de pico = trânsito; segundo: véspera de feriado e calor = trânsito; terceiro: jogo no Morumbi = trânsito nas avenidas próximas. Transito, transito e transito.

Começamos a andar taticamente pela cidade, procurando uma brecha pela qual poderemos chegar à cara do gol. Tentamos uma rota: marcação cerrada, implacável, impossível passar. Tentamos outra, agora com sucesso, mas o caminho fica um pouco maior. Troco de estação no rádio. SulAmérica Auto. As instruções técnicas sobre o trânsito procuram ajudar, mas está difícil. O maior congestionamento do ano: 230km. Jogo truncado nas ruas de São Paulo.

Nos carros ao lado já vejo outros são-paulinos, todos no mesmo ritmo de jogo. Trocamos passes, pedimos um lançamento, e o jogo continua...

Triiiiiiiiiiila o apito o árbitro. Bola rolaaaando. Começa o jogo:
Começa o jogo no Morumbi. No carro, continuamos tentando o drible perfeito. O São Paulo entra em campo, mas o ritmo não é bom. São Paulo não anda hoje, está travado. O comentarista diz que Hernanes quer caprichar demais e erra passes, enquanto Arouca não repete suas boas atuações. Do lado de cá, Júlio se mostra apreensivo, não chega na bola, e Messias procura um espaço no trânsito, sem sucesso.

O teeeeempo passa, tooorcida brasileira. O locutor avisa: 38 minutos do primeiro tempo. Bola com o Defensor, cruzamento, Rogério Ceni vai fácil pra bola, espalma de forma estranha e... ela cai dentro do gol: Defensor 1, São Paulo 0.

“- Não posso acreditar!” – digo a Messias, ainda imóveis na Av. Morumbi.
Jogo tenso:

- “Caralho! Não acredito! Já perdemos o 1º tempo todo. Deste jeito vamos perder também o 2º” – acrescento.

E assim termina a primeira etapa.
No intervalo o time conversa. Muricy tenta ajeitar a equipe para a segunda etapa. Sai Zé Luiz e entra Dagoberto. O São Paulo vai pra cima.

“- Júlio e Messias, é com vocês. Entrem lá e virem o jogo” – falo que Muricy falou.
Aviso:

“Um gol meu e outro seu, Messias”

Finalmente estacionamos. Logo de cara uma advertência: R$20,00 pra deixar o carro na rua. Mas não nos abatemos e vamos pro jogo.
Morumbi lotado.

Tudo pronto. Comeeeeeça o 2º tempo.

O São Paulo vai pra cima, é outro time. Mais agressivo, nem sombra da apatia do 1º tempo. Dagoberto dribla, faz bons passes. Hernanes joga simples e bonito. A defesa se acerta, não dá espaço aos uruguaios. Um lance de perigo atrás do outro. A torcida incentiva, não pára um só minuto de cantar.

Bola na lateral, o atacante do São Paulo avança, invade a área, o goleiro sai, um simples toque pra encobri-lo e... na traaaaaaave. No travessão. Uuuuuuuuuhhhh.

Mas o tempo ta passando, chegamos à metade do segundo tempo. Bola levantada na área, Washington escora de cabeça e Borges pega de primeira, uma bola quase perdida que vai no ângulo: GOOOOOOOOOOOOOOLLLLLL, do São Paaaaaaaaulo.

A voz começa a sumir, ficamos roucos.

E maaais um ataque. Outra bola levantada na área, confusão, bate-rebate e... Olho no lance: ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ DO SÃO PAAAULO. CONFIRA COMIGO NO REPLAY, FOI, FOI, FOI, FOI, FOI, FOI ELE: DE NOVO, BOOORGES, O CRAQUE DA CAMISA Nº 17. Quando eram jogados redondos 28 minutos da segunda etapa, após a confusão na área com o bico da chuteira ele tira do goleiro e acerta o canto esquerdo da meta do goleiro uruguaio, sem chances de defesa.

Com este resultado o tricolor garante a classificação e fica a um empate de garantir também o 1º lugar no grupo.

Todos felizes no estádio! As bandeiras se agitam. O Morumbi é só festa. A festa está completa. O São Paulo administra o jogo no campo do adversário e ainda chega com perigo.

Agora sim, depois de um dia dificílimo, teremos tempo pra tomar umas cervejas, comer o lanche de pernil e comentar a partida e nossa fundamental participação no resultado. Demos sorte, precisamos ir mais vezes! Pois aqui dentro do estádio não há tempo para mais nada, o juiz apita: FINAL DE JOGO! Tivemos nossa porção de sofrimento, temperada com pitadas cotidianas de alegria, que deu o sabor da noite.
Troca de Passe é uma proposta de um texto com duas "visões" de um mesmo jogo, para ler a continuação acesse: http://pulaomuro.blogspot.com/ e veja como "as meninas", eu, também brincam de jogar bola. Aproveite e leia os textos coletivos escritos por Júlio e Leonardo, os caras batem um bolão!

6 comentários:

Mill disse...

A unica noticia boa desse jogo foi o placar

Saindo as 17:30 do lado do morumbi, devido a um rabo de saia me atrasei, perdi o jogo, fiquei mais de duas horas no transito, roubaram meu carro, furtaram meu celular e por sorte ainda tenho os documentos que estavam debaixo do banco....

Mas é isso ai, quem disse que ser tricolor é facil

Domingo estarei no Morumbi pra comer galinha ao molho de gambá

Saudações

Verificação de Palavras: eusencu

Anônimo disse...

Comentaristando!!!!

São paulino é assim, sofre, passa por diificuldades, porém torce pro time da alegria!!!

Ontem, converssando durante o almoço com uns amigos, dentre eles uma grávida, falávamos sobre o fato de principalmente o pai já querer escolher o time que o filho irá torcer... essa amiga grávida falando que com ela não será assim. Até que outra disse: -Ele já vai vir com tudo de melhor escolhido, pode ter certeza.
A gravida e eu falamos juntas: Inclusive o time, São Paulo!!!

Ééééé tricolor... Namastê!

Maga disse...

Tricolor rumo ao Tetra!

Eu tbm me aventurei pelos trens da vida, onibus lotado, agitos e novos amigos no busão, mas cheguei cantando o hino nacional, pontualmente ás 19:10! Ufa!

E hoje tem mais um degrau a se subir na escalada ao tetra!

E domingo... eee gambá, pode esperar sua hora vai chegar!

Vanessa disse...

Dá-lhe dá-lhe tricolooooor!!!!
Independente de trânsito, atrasos e confusões o que importa é acompanhar o tricolor em sua trajetória vitoriosa e cheia de emoções!

Força Rogério Ceni!

Fadulzitos disse...

Hehehe
Belo texto, bem sãopaulino mesmo. Só faltou mencionar que o primeiro gol do "Borgol" (é assim mesmo q vcs o chamam?) estava absurdamente impedido, e q o "Dagol" (é isso mesmo?) deu uma entrada criminosa no jogador adversário e nem amarelo levou, mas isso faz parte do futebol, não é mesmo?
"A torcida incentiva, não pára um só minuto de cantar." Tem certeza que era jogo do São Paulo?!
Brincadeiras e provocações baratas a parte, sem dúvida é um belo retrato dos obstáculos que um torcedor enfrenta para acompanhar o time do coração.

Paulinha Barboni disse...

Rá... os torcedores também me surpreenderam no trem.
Nota: Eu não ia ao jogo! rs

Vibratioooons!! rs