sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rua das Flores


No coração da cidade, a Sé, existe uma rua chamada Flores. Mas não existem jardins lá, nas calçadas duras-de-sujas brotam seres humanos. Assim como você e eu, feitos de carne e ossos.
A placa de aluga-se amarela com o tempo. O prédio espera os moradores que não chegam. O degrau do portão é o travesseiro de quem não tem nada além de sua pele gasta. Um de nós sem endereço para receber cartas ridículas, como toda boa carta de amor. Sem porta para abrir e sentir o cheiro do café que vem da cozinha. Sem chão, sem teto.
Aos poucos, nos distinguimos, nós e eles. Transformamos humanos em animais. Nos recusamos a olhar para o espelho, do contrário, veríamos lindos cavalos adestros que só enxergam o caminho à sua frente. Cavalgamos presos aos nossos cabrestos sociais com sede de acumular egos ou cartões. Mas a esperança é que o Cabresto, por força ou acaso, se desfaça. Nerudas nasçam pra dizer que a dor de um ser morreu na vitória de todos.
O sono deles é a nossa insônia.
Um de nós dorme agora na rua das Flores.

11 comentários:

Suzanna Ferreira disse...

tentando encontrar qual o maior peso das coisas entre a passividade agressiva ou a violencia passiva..enquanto leio seu texto estou aqui petrificada c. a noticia do assaltante q resolveu atirar contra o pai e o bebe em seu colo..qual das duas ações ou inações nos ferem mais dia a dia, sem q ninguem ou qse ninguem faça nada por isso?

Furte o tempo disse...

Tô tentando me livrar dos cabestros.Enquanto fico aqui, na minha insignificância... Nascem homens na rua das Flores.

Beijos Claude.
Belo e violento texto.
Thaís

Vanessa disse...

Clau,
Um dos melhores textos que vc já postou! Muito bom!

Unknown disse...

Que texto forte, Flor!

Pesado e poético!

Saudade das boas conversas contigo!

boca suja crew disse...

cada um tem seu talento escrever é o seu....desenhar é o meu......kkkkkk.......bjos...

Marcelo Balbino disse...

Cloude,
como sempre, um retrato muito bom da realidade.
Dessa vez eu diria que é um retrato preto & branco de uma foto colorida. Real e cheio de vida e de opinião!
Tenho certeza que ele a parte dos corações onde moram parte dos nossos tormentos. Belo texto! Muito bom!
Bjos!

Martchelo

Werner disse...

Clau, Conheço esta rua desde o tempo das máquinas de escrever (lá havia um montão de lojas que as vendiam),tempos onde as pessoas por lá transitavam mais ou menos alegres. O tempo passou, as máquinas tambem, e os homens...

PuLa O mUrO disse...

nada mais cruel que o darwinismo social...

não preciso nem falar q é + um ótimo texto desse ótimo blog!

léo

Anônimo disse...

Mais um olhar da borbulhante mente de quem vê com o coração. Este eu gostei mais do que o outro. Pipocou no meu coração. Grande-pequena Clau... não deixe que o tempo tome conta do teu coração_mente deixando tudo isso prá trás. Siga adiante... mostre pro mundo o teu lindo olhar traduzido em palavras que nos transporta.
bjiMM

Beth disse...

Prima, adorei seu texto.
Sua admiradora nº 1.


Beth
Beijos

danilo disse...

adorei a poesia do seu texto, moça. mesmo descrevendo a realidade dura do coração de são paulo (coração com veias entupidas...). bjs n´ocê, danilo